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Arquivo Nacional tem importante acervo sobre Chico Mendes

Documentos mostram como Serviço Nacional de Informações (SNI) e outros órgãos de segurança do Estado brasileiro acompanharam a vida de Chico Mendes, líder sindical que combatia o desmatamento da floresta amazônica e exigia direitos para quem vivia dela. Boa parte do acervo está disponível para download gratuito.

Bruno Leal | Agência Café História

O Arquivo Nacional, localizado no Rio de Janeiro, possui um rico e diversificado acervo sobre o seringueiro Chico Mendes, cujo assassinato completou 30 anos em 2018. Os documentos foram produzidos principalmente pelo Serviço Nacional de Informações (SNI), criado pela ditadura militar em 1964, e por outros órgãos de segurança de Estado interessados em monitorar aquilo que chamavam de “atividade subversiva no Acre”.

Chico Mendes lutava contra o desmatamento da floresta amazônica naquele estado e demandava o reconhecimento de direitos dos indígenas e extrativistas que viviam na e da floresta.  Os documentos do Arquivo Nacional falam sobre a militância sindical e ambientalista de Chico Mendes no Acre, seu assassinato e até mesmo sobre a Fundação Chico Mendes, criada cinco dias após o seu assassinato, com sede na cidade de Xapuri, no Acre. A maior parte da documentação é composta por dossiês temáticos “reservados” ou “confidenciais”. Dentro de cada dossiê podem ser encontrados telegramas, informes, boletins, recortes de jornais, ofícios ou fotografias.

Parte de documento arrolado pelo SNI - Chico Mendes em foco. Arquivo Nacional
Parte de documento arrolado pelo SNI – Chico Mendes em foco. Arquivo Nacional

Há duas formas de encontrar esses documentos, que pertencem a fundos e coleções diversas. Uma delas é através da pesquisa livre do site do Sistema de Informações do Arquivo Nacional, o chamado SIAN. No campo de busca deste sistema (clique aqui), o termo “Chico Mendes” leva a mais de 100 resultados. A segunda forma de fazer essa pesquisa é através do Bando de Dados Memórias Reveladas, que também pertence ao Arquivo Nacional. Neste segundo sistema (clique aqui), o termo “Chico Mendes” encontra quase 900 registros. Boa parte deste material pode ser baixado gratuitamente (formato PDF), pois foi digitalizado pelo Arquivo Nacional. O material que não foi digitalizado pode ser consultado por qualquer cidadão na sede do Arquivo Nacional, no centro do Rio de Janeiro, sendo necessário apenas o agendamento prévio da pesquisa.

Velório vigiado

Um dos materiais disponíveis para download é dossiê 7859/1988, produzido pelo SNI. O dossiê possui 66 documentos que detalham a movimentação e o clima político da cidade de Xapuri, no Acre, nos dias seguintes ao assassinato de Mendes, bem como os da cidade de Rio Branco, capital daquele estado, onde o corpo foi velado. Em um telegrama, o informante do SNI relata a formação de uma manifestação de repúdio ao assassinato de Mendes no saguão da Assembleia Legislativa do Acre, reunindo mais de 100 pessoas. “Na ocasião”, diz o texto, “foi distribuído panfleto sob o título ‘Chico Mendes. Mataram o nosso líder, mas não a luta’”. A correspondência diz ainda: “No bojo do referido documento são feitas uma série de imputações críticas a diferentes autoridades, culpando-as de forma veemente ´pela omissão que contribuiu para o trágico acontecimento´, a exemplo do Presidente da República, Ministro da Justiça, Governador do Acre, Diretor Geral do DPF, conhecedores dos graves litígios pela posse da terra existentes em Xapuri”.

Quem foi Chico Mendes?

Segundo Sônia Zylberberg, no Dicionário Histórico-Geográfico Brasileiro, Chico Mendes é como era popularmente conhecido Francisco Alves Mendes Filho, nascido em Xapuri, no Acre, em 15 de dezembro de 1944. Chico Mendes trabalhou desde a infância como seringueiro. De origem humilde, alfabetizou-se apenas aos 18 anos, depois de conhecer Euclides Fernando Távora, antigo militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB).

Uma vez alfabetizado, Mendes alfabetizou diversos companheiros de profissão, conscientizando seus colegas de classe da exploração então praticada pelos seringalistas. Em 1975, Mendes ingressou no movimento sindical e no ano seguinte, em 1976, começou a divulgar uma técnica que visava impedir o desmatamento da Amazônia, o que aborreceu fazendeiros da região. Mendes denunciou na época a exploração irracional dos recursos da floresta, defendendo a criação de reservas extrativistas. Seu objetivo era preservar o meio ambiente e melhor as condições de vida das populações amazônicas.

Chico Mendes com o filho, Sandino. Foto tirada 5 semanas antes de seu assassinato. Foto: Miranda Smith, Miranda Productions, Inc.
Chico Mendes com o filho, Sandino. Foto tirada 5 semanas antes de seu assassinato. Foto: Miranda Smith, Miranda Productions, Inc.

Chico Mendes participou da fundação, em 1977, do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Xapuri e elegeu-se vereador dessa mesma cidade pelo Movimento Democrático Brasileiro (MDB). Dois anos depois, filiou-se ao Partido dos Trabalhadores (PT), que acabava de surgir profundamente alinhado às lutas sindicais e populares. Em 1980, ele foi enquadrado pela Lei de Segurança Nacional por denunciar a impunidade do assassinato de Wilson Pinheiro, seu colega, mas acabou absolvido.

Em 22 de dezembro de 1988, Mendes, que já uma liderança popular reconhecida internacionalmente, foi executado a tiros quando saía de casa. Ele tinha completado 44 anos uma semana antes. A polícia prendeu dois fazendeiros, que foram condenados a 19 anos de encarceramento – e que, atualmente, já se encontram em liberdade. O assassinato de Chico Mendes, seringueiro, ambientalista e líder sindical, repercutiu tanto no Brasil como no mundo inteiro e representou um divisor de águas para o movimento ambientalista brasileiro e internacional.

Fonte:

CARVALHO, Bruno Leal Pastor de. Arquivo Nacional tem importante acervo sobre Chico Mendes (notícia). In: Café História – história feita com cliques. Disponível em: https://www.cafehistoria.com.br/chico-mendes-no-arquivo-nacional/. Publicado em: 12 fev. 2019.

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