Cidade Mongaguá

Aldeia Aguapeú promove turismo de base comunitária na Baixada Santista

Por Felipe Zanusso

No último sábado, dia 25 de maio de 2019, um grupo de 22 pessoas conheceu o Turismo de Base Comunitária que está sendo desenvolvido na Aldeia Indígena Aguapeú, localizada em Mongaguá, na Baixada Santista de São Paulo.

O grupo, organizado pelo Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista, foi composto por profissionais, militantes do movimento de EcoSol e amigos de diversas áreas, tendo como objetivo conhecer um dos seis roteiros que estão previstos no Plano de Visitação da Aldeia (PVA).

Boas vindas para os visitantes – Foto: Felipe Zanusso

Entre as justificativas da atividade de visitação desenvolvida pelos indígenas, está “a ideia de que o Turismo de Base Comunitária – TBC seja uma atividade que divulgue a importância da terra para a cultura Guarani, ajude a gerar renda e permita custear o monitoramento da Terra Indígena a partir dos rios e das trilhas” (PVA).

Mas para iniciar as atividades, os indígenas tiveram que se capacitar: curso de arrais para conduzir os barcos, agentes de saúde em caso de eventualidades, curso de agente ambiental, além da formação do curso de Turismo de Base Comunitária, promovido pelo Fórum de Economia Solidária da Baixada Santista com a Universidade Estadual Paulista – Unesp, Campus de São Vicente, através do Laboratório de Planejamento Ambiental e Gerenciamento Costeiro (Laplan), com apoio do Observatório do Litoral. Todas as atividades são acompanhadas e tem a participação de servidores da Fundação Nacional do Índio (FUNAI).

Além disso, de acordo com Newton Rodrigues – extensionista da CATI, os indígenas tiveram que enfrentar alguns desafios de acesso aos recursos previstos no Programa Microbacias II da CATI/Banco Mundial devido às exigências burocráticas. Infelizmente, nem todas as aldeias do Estado de São Paulo conseguiram acessar os recursos desta política.

O acesso ao Programa possibilitou a aquisição de alguns equipamentos como os barcos e motores, que atendem também a necessidade do transporte entre as aldeias, escoamento da produção e a vigilância indígena da Terra Indígena Aguapeú. Além disso, houve financiamento de mudas de pupunha e bananeiras, unidades de climatização e desidratação de banana e um veículo.

O planejamento do turismo na aldeia busca reduzir os impactos da presença dos visitantes, mantendo uma conexão entre visitante e comunidade, como consta no Plano de Visitação “Pensamos que a maior parte das atividades deverão ocorrer fora do espaço da aldeia para que haja menos interferência no cotidiano das pessoas da comunidade. Entretanto, consideramos importante a interação com os visitantes e resolvemos manter pelo menos duas atividades em locais específicos das aldeias Aguapeú e Nhanderupo erguidos com essa finalidade” (PVA).

Como já publicou esse blog, o TBC é uma alternativa ao modelo de turismo convencional que atende as necessidades de conservação dos modos de vida tradicionais e da biodiversidade de pequenas comunidades, além de estimular o desenvolvimento econômico local.

Entre os objetivos do TBC da Aldeia Aguapeú, destaca-se a ampliação do grau de conhecimento da população geral sobre a cultura Guarani e a questão indígena; o acesso aos recursos necessários para custear as atividades relacionadas ao turismo e a manutenção dos barcos; a geração de renda com a venda de artesanato, alimentação e custeio dos barqueiros indígenas (que são também os guias).

Paisagens durante o passeio – Foto: Felipe Zanusso

Entre os barqueiros que levam os visitantes pelos meandros do Rio Aguapeú, dois jovens pilotam os barcos e respondem as perguntas curiosas das pessoas. O envolvimento dos jovens nas formações e nas atividades como guias e agentes ambientais foi uma estratégia do projeto para “assegurar para as próximas gerações o compromisso com o nosso território” (PVA).

Os quatros barcos deslizam pelo rio, por paisagens que nos fazem esquecer que estamos tão próximos de centros urbanos, como Santos e São Paulo. Uma das visitantes, moradora de Santos, expressa: “Inacreditável que estamos na Baixada Santista, menos de 60 km de Santos”. Veja o vídeo abaixo.

O roteiro, chamado “Encontro dos Rios”, é um percurso de 40 minutos de barco desde a aldeia Aguapeú, através do rio Bichoró, até o encontro com o Rio Mineiro, que juntos formam o Rio Aguapeú. Diversas espécies de árvores e aves são observadas ao longo do trajeto, além da bela paisagem da planície que acompanha a Serra do Mar.

Artesanato produzido pelas mulheres indígenas – Foto: Felipe Zanusso

Após o retorno dos barcos, a excursão desembarca do outro lado do Rio, onde está o acesso via terra para a Aldeia. Na entrada a sinalização indicando que estamos entrando em uma área protegida, a Terra Indígena Aguapeú, homologada em 08 de setembro de 1998.

Subimos em direção à escola, onde fazemos uma visita de aproximadamente 30 minutos à Aldeia Aguapeú e podemos comprar artesanato e produtos da roça, como o palmito pupunha. O artesanato é uma das atividades coordenadas pelas mulheres, beneficiárias diretas de parte da renda.

Da escola podemos ter uma dimensão da localização da aldeia no contexto do município de Mongaguá, com as casas e prédios de veraneio na faixa da beira-mar, seguida da ocupação na faixa pós-rodovia e a faixa de vegetação que se mantém conservada em virtude da presença da terra Indígena.

O processo de ocupação dessa região pelo turismo de segunda residência teve início em meados da década de 40, ou seja, poucas décadas atrás tínhamos uma faixa verde contínua, conectando serra e mar, ocupada pelos indígenas que mantinham a floresta em pé!

O desenvolvimento do turismo de sol e praia voltou seus olhares exclusivamente para a faixa de areia, esquecendo de olhar para as belezas e comunidades tradicionais das (en) costas da Serra do Mar. O TBC da Aldeia Aguapeú é uma das oportunidades de promover um outro turismo, aliando valorização da cultura indígena, conservação da natureza e desenvolvimento local.

E você, ficou interessado em visitar e apoiar essa iniciativa?

O passeio que realizamos dura em média 02 horas e existem atividades para diferentes públicos, como o ecoturista, com foco nos passeios de barco, nas trilhas e cachoeiras, até o etnoturismo, focado na cultura Guarani, através da alimentação, do artesanato e da agricultura.

Os passeios precisam ser agendados, reunindo no mínimo 06 pessoas e no máximo 20 pessoas. Os grupos podem ser organizados espontaneamente como para estudantes universitários, colônias de férias, agências e escolas.

Os interessados em visitar a aldeia podem fazer contato com o Cacique Sergio Popygua Martins (https://www.facebook.com/sergio.martins.1671 ou pelo celular (13) 99695-1883) e combinar.

Que possamos valorizar, cada vez mais, nossos povos indígenas, sua cultura e o reconhecimento de seus territórios tradicionais!

 

Fonte: Blog Natureza Crítica

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