Paradigmas Filosóficos

Democracia em suas origens na Grécia Antiga

 

“Democracia” é uma palavra de origem grega. Isso, normalmente a maioria das pessoas já sabe. No entanto, como se deu o surgimento da democracia e em que época, poucos se detêm para estudar e conhecer.

Para conhecermos um pouco dessas origens, precisamos entender o processo de formação da Grécia. Essa história começa por volta de 2.000 a.C., quando a região do Mar Egeu sofreu as primeiras invasões dos grupos que vivam na região dos Balcãs ou Sul da Rússia, os diversos povos indo-europeus, os quais dominaram os cretenses que habitavam a região há vários séculos. Os cretenses formavam uma sociedade altamente desenvolvida para os padrões da época e praticavam, entre outras coisas, a escrita em hieróglifos, os quais, inclusive, ainda não foram totalmente decifrados pelos pesquisadores. Todavia, sua organização social era palaciana, não havia nada parecido com democracia. Os Mínios chegaram à região do Egeu e transformaram as estruturas estabelecidas. Também naquela época chegaram os Hititas, pelo lado oriental. Essas ondas de invasão duraram muitos séculos.  Por volta de 1.700 a.C novos grupos desceram para a região, também indo-europeus, denominados Eólios, Jônicos e Aqueus.

Assim, todos os referidos grupos invasores foram a semente do povo que chamamos grego. Eles já falavam dialetos arcaicos, próximos ao que seria depois o grego, embora não tivessem uma unidade política.  Durante aqueles séculos, os cretenses continuaram na região, com sua organização palaciana, mas tiveram de dividir as terras com os novos habitantes, os quais eram organizados em famílias e tribos.  Por volta de 1.200 a.C, começaram a chegar os Dóricos, mais um grupo indo-europeu, e eles destruíram aquela convivência equilibrada na região, provocando uma ruptura, principalmente forçando o abandono das cidades e fuga para os litorais afastados – nessa época começaram a se formar as primeiras colônias gregas, tanto no litoral que hoje pertence à Itália, como no litoral que pertence hoje à Turquia, em grande parte.

Até mesmo a escrita desapareceu naquela época, também conhecida como a Idade das Trevas, que perdurou até por volta de 900 a.C., quando as cidades começaram a se organizar novamente, formando Ligas entre elas para resistir ao poderio bélico dos Dóricos. Foi a época em que se estabeleceram as Cidades-Estados gregas. Cada uma ao seu modo, com sua própria organização, seus próprios costumes. Com essa nova estrutura, a região encontrou maior tranquilidade para se desenvolver e, embora ainda tenha havido muitos conflitos, de fato a partir daí surgiu o que conhecemos como povo grego.

E, sim, havia os escravos. A escravidão foi uma das marcas de todo esse período de formação e desenvolvimento da Grécia Antiga, embora não se possa dar o mesmo significado que habitualmente conhecemos como “escravo”. Contudo, desde os primórdios, eles distinguiam aqueles chamados “doeros” como aqueles que não possuíam liberdade e tinham de trabalhar para os seus Senhores. Também havia uma classificação entre escravos de outro homem e escravo dos deuses.  E mesmo alguns escravos podiam até ter terras, enquanto outros, não podiam ter nada. Mas, esse termo, utilizado nos primeiros tempos, desapareceu durante a Idade das Trevas e apareceu, com o mesmo sentido, a palavra “d’mos”. Depois, essa palavra deu origem aos “demos”, como eram chamados os agrupamentos de camponeses, trabalhadores em geral, possuidores ou não de terras e que mais tarde, garantiram o apoio às revoltas para derrubar a aristocracia. Vários Tiranos ascenderam ao poder até que, no séc. V a.C.,  diante da inconsistência dos tiranos, foi estabelecido o governo do povo, a democracia.  Por conta dos conflitos internos sobre a divisão das terras, várias reformas administrativas (divisões e acordos) foram feitas até se chegar ao formato em que todos os gregos podiam se expressar em praça pública sobre os destinos da cidade, inclusive julgamentos e condenações. Nasceu, assim, a democracia. Porém, é preciso ressaltar que apenas os homens adultos, casados, gregos, livres, podiam participar dessas assembleias. As mulheres, as crianças, os estrangeiros e os escravos não tinham esse direito. Nessa época, além da democracia surgiu também a Filosofia. E esse é outro tema de que falaremos na próxima ocasião.

Luiz Meirelles

Mestre em Filosofia

Bel. em Direito

Licenciado em Filosofia e Letras

Atua como servidor público concursado na Justiça Federal. Foi um dos fundadores do CEFS, onde, além de Diretor, ministra cursos de Introdução à Filosofia, edita a revista impressa e online “Paradigmas – Filosofia, Realidade & Arte” e organiza os Cafés Filosóficos (mensais) e a Semana de Filosofia (anual).

Bibliografia:

MELE, Alfonso. Esclavage et liberté dans la société mycénienne. In: Actes du colloque 1973 sur l’esclavage. Besançon 2-3 mai 1973. Besançon : Presses Universitaires de Franche-Comté, 1976. pp. 115-155. (Actes des colloques du Groupe de recherche sur l’esclavage dans l’antiquité, 4);

VERNANT, Jean-Pierre. Trad. Isis Borges da Fonseca. As Origens do pensamento grego. Rio de Janeiro: Difel, 2003.

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