Guilherme Junior

É preciso aprender a falar a língua dos fudidos

É quase um consenso entre os militantes de esquerda e libertários em geral que os grandes meios de comunicação são entraves na construção de uma sociedade efetivamente democrática. Afinal, o poder de dizer para um grande número de pessoas o que é verdade e o que não é tem impacto na forma que a política, a economia e a sociedade reagem e se organizam. No entanto um amigo, fora desses círculos militantes, recentemente me questionou: porque a esquerda não consegue dialogar com a população da mesma forma que a Globo faz?

Mais do que apenas reclamar que, sem um SBT nas mãos, fica difícil bater de frente com o poder midiático, é fundamental pensar na forma que a esquerda vem se expressando e conquistando corações para o mundo socialista que tanto desejamos. E essa distância fica evidente no que já foi o principal trunfo das lutas populares: o trabalho de base!

Há uma grande dificuldade em dialogar com as populações mais prejudicadas pelo capitalismo/neoliberalismo. Por mais que, de fato, não tenhamos espaços assegurados nas grandes emissoras de TV, tampouco temos conseguido dialogar nos espaços que ainda temos. Mais uma vez, é nos nossos espaços, como emissoras de rádio e TVs educativas e comunitárias ligadas a grupos populares, que a barreira discursiva é mais perceptível.​​​​​​​​

 

A Radiofeira é um forma de fazer rádio no meio da rua, para aproximar a população desse meio de comunicação.

Há uma tendência de falar para nós mesmos, alimentando egos e teorias. Mas não avançando um centímetro no contato e no convencimento com a população. Essa, ao contrário, vai aderindo ao discurso de êxito pessoal, meritocracia e o empreendedorismo. A visão positiva sobre esses temas tem grande impacto na eleição de figuras como João Dória em São Paulo e de Donald Trump nos EUA.

É fundamental retomar o diálogo com a população nos bairros periféricos, nos grupos, coletivos, escolas e locais de trabalho. Mas sem uma estratégia oportunista. Temos o dever de conversar com as pessoas a partir dos seus interesses, de suas necessidades e gostos. É hora de retomar as rádios comunitárias, jornais de bairro, realizar saraus e utilizar a tecnologia para construir meios novos e legítimos de conversar com os que vivem realidades tão fudidas quanto as nossas. Esse é um pequeno passo para começar a organizar a resistência popular.

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