Colunistas Márcia Simões Lopes

“E a verdade vos libertará” – The Intercept, 2019

Por Marcia Simões Lopes
Chegou o momento da separação entre joio e trigo. O jornalismo investigativo e sonhador do século XXI traz esperanças aos corações cansados, das crueldades do desumano.
O que é verdade e o que é ilusão – eis a questão!
The Intercept –  site de jornalismo –  tem em suas mãos a parcela verdadeira da história do Brasil, vazada de conversas entre o ex juiz Moro, procuradores e outras autoridades ainda não reveladas. As aparentes provas acusam atitudes supostamente ilícitas na condução dos trabalhos da Lava Jato. São informações não investigadas pela grande mídia, omitidas da população e agora compactadas em cerca de mil horas nalgum lugar onde a tecnologia chegou.
Há uma queda de braços acontecendo no país e no mundo neste agora. De um lado estão os setores da direita envolvendo Trump, Bolsonaro, Steve Bannon, Olavo de Carvalho e outros. Do outro lado estão democratas como Pepe Mujica, Bernie Sanders, Lula, Marcelo Freixo, Sonia Guajajara no Brasil, e tantos mais de outros continentes também. Quem vencer a queda de braços dará novos rumos ao mundo e ao Brasil especialmente.
As informações vazadas pelo The Intercep elucidam a história do país, sequestrada há tempos e mais recentemente desde 2016. É o fio de uma longa meada que desenrolará outras inverdades e falsas narrativas contadas desde 1500.
Faz um tempo, paira no ar a sensação de que algo grandioso e necessário está por acontecer. O país vive um caos; não por falta de dinheiro e sim por falta de verdade, caráter e transparência na política, de modo geral.
Nos anos 90 e inicío do século XXI a popularização do computador e da internet mudou o mundo. A velocidade tornou-se a diva da comunicação, impondo um rítmo mais veloz ao jornalismo.
Na época, muitos profissionais não souberam, de prontidão, adequar-se ao novo rítmo que as novidades traziam. Velhos costumes e procedimentos foram substituídos pelas inovações que igual vendaval chegavam, varrendo o que era conhecido e substituindo pelo desconhecido.
A velocidade afrontava as regras do bom jornalismo: pesquisar, entrevistar, checar fonte, revisar textos e a outros cuidados necessários à publicação da matéria – toda essa linha de montagem foi por água abaixo, após a chegada da velocidade. Empresas de comunicação colocaram de lado o jornalismo investigativo. Profissionais da imprensa foram demitidos e substituídos por agências de noticias que distribuíam informações – notícias – aos diversos jornais. Tudo era “fast” e a concorrência pedia agilidade.
Esse acontecimento empobreceu o jornalismo. Padronizou a informação, tornou as mídias parecidas, menos criativas, menos confiáveis, afastadas da fonte, menos interessantes e distantes da realidade das ruas.
Passados todos esses anos após a grande transformação do modo operante do jornalismo no Brasil, tempo atrás a investigacão voltou à cena. A necessidade de um jornalismo humanizado, oferecendo clareza e informação a todos e não somente a alguns colocou profissionais, na rota da verdade. Lentamente as reportagens voltaram a ocupar os espaços e desde então a velocidade deixou de reinar absoluto, no jornalismo. Dividindo o trono com a verdade.
E o que mudou? Qual é a novidade? – A novidade está na quebra de paradigmas na comunicação.
A era da velocidade que tornou a comunicação simultânea em qualquer parte do mundo já não é mais novidade. As novas tecnologias mudaram a cultura da comunicação. Informar não mais obedece hierarquias, não aguarda consentimentos e está fora do alcance do censor! O novo jornalismo traz um novo formato. Adaptado às novas tecnologias. Permitindo acesso à informação sem imposição de barreiras –  de um lado está a informação e do outro lado está o leitor – cidadão. E entre um e outro não existe obstáculo.
Devidamente documentada, toda publicação de utilidade pública merece –  por questões humanitárias, de política, de saúde não importam por quais motivos –  ser compartilhada. Se por um lado isso não acontece, por interesses de governos, donos das empresas de comunicação e outros motivos, por outro lado a internet viabiliza o acesso público às informações. Garantindo o real caráter público da informação.
Poucos sabem que informação é Direito de todos. Informação não é entretenimento tampouco é concessão de alguns. É Direito do cidadão! A propagação de Fake News em vários países entre eles o Brasil é uma clara tentativa de corromper esse direito de acesso à informação e manter desinformado, o cidadão. Por detrás dessa prática não pode haver boas intenções, certamente.
Uma nação não pode permitir que a elite governante decida, o que o povo pode ou não saber.
Julian Assange, jornalista e fundador do site de notícias Wikileaks talvez seja o precursor dessa ousadia humana e revolucionária. Ultrapassou as tentativas de censura, hierarquização, domínio e manipulação da informação.
Julian Assange está preso. Recentemente foi pedido sua extradição para os Estados Unidos. Assange tornou público documentos compartilhados secretamente entre líderes mundiais, de conteúdo contrário aos interesses da população de diferentes nações. Assange ofereceu ao cidadão o que é direito dele saber.
No Brasil, o vazamento de informações de interesses públicos pelo The Intercept  não surpreendeu os que já desconfiavam do conteúdo das histórias vazadas, porém causou horror aos que crêem nos acusados. A exposição da trama jogou luz sobre uma parte da sociedade que já imaginava o conteúdo das denúncias mas não tinha provas para fazer valer a suspeita. Entre esses estão os advogados de defesa do ex presidente Lula. Esse último alvo da trama.
A partir do vazamento do The Intercept instalou-se no país um tribunal. Longe de ser um Tribunal no estilo do STF e outros similares e formais iguais a esse. Trata-se de um tribunal natural, onde o povo é o juíz. As mídias – com exceções – apenas dão visibilidade aos dois lados: acusação e defesa. Isso antes não acontecia.
Glenn Greenwald, editor do The Intercept trabalhou no jornal diário britânico The Guardian e em 2014 ganhou o mais importante prêmio do jornalismo internacional –  Prêmio Putzer –  agindo em parceria com o ex-agente da CIA e da NSA norte-americana, Edward Snowden. É cidadão americano e vive no Brasil há cerca de 15 anos. Responsável pelas recentes denúncias vazadas para a imprensa brasileira, e também internacional, além de jornalista é advogado e conhece bem os trâmites do poder, das leis e é profissional experiente na prática de investigação.
Graças ao jornalismo investigativo do The Intercept uma luz se acende sobre o país iluminando mentes e tpossibilitando à formação de uma nova consciência, em nossa sociedade.
No meu ponto de vista Glenn Greenwald é a expressão mais abrilhantada do jornalismo investigativo e sonhador, do século XXI!
Bem vindo ao novo mundo do jornalismo!
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