Colunas do Rock

Greg Lake e John Wetton: Calam-se as vozes que levaram o prog ao AOR

Numa triste coincidência, Greg Lake e John Wetton faleceram com pouco mais de um mês de intervalo (Greg no dia 7/12/2016 e John no dia 31/1/2017). A carreira de ambos tem mais paralelos do que podemos supor. Ambos fizeram parte do King Crimson e do Asia (embora Lake só tenha feito shows e não participado de gravações). Os baixos e vocais de ambos foram fundamentais para estabelecer o rock progressivo dos anos 70. E ambos talvez sejam vistos por mentes mais obtusas como “vendidos”, já que passaram algum tempo frequentando as FMs (Lake especialmente com C´est La Vie e Wetton com Heat of The Moment e Only Time Will Tell).
 

Greg Lake

O King Crimson foi um divisor de águas na época de seu primeiro álbum, In The Court of Crimson King, onde Lake tocava baixo e cantava. No entanto, para o álbum seguinte, In The Wake of Poseidon, o líder da banda Robert Fripp trouxe Peter Giles para o baixo (irmão do baterista Michael Giles), deixando Greg nos vocais apenas. Isso deve ter pesado na decisão de aceitar o convite do ex The Nice, Keith Emerson, para formar o Emerson Lake and Palmer. Wetton ingressou no KC em 1972, e participou da criação estética do som, que as vezes soava mais vanguardista do que progressivo, e tocou baixo e cantou em álbuns seminais da banda, como Lark´s Tongues In Aspic, Starless and Bible Black e Red (além do ao vivo USA). Fripp encerraria as atividades do Crimson em 1975, já prevendo as mudanças estéticas da década vindoura (retornariam em 1981, com nova formação, mantendo apenas Bill Brufford, e uma estética totalmente diferente), e Wetton tocaria baixo no Roxy Music, Uriah Heep e UK (com o ex Roxy Music Eddie Jobson, o baterista Terry Bozzio e o guitarrista extraordinaire Alan Holdsworth, que só participaria do primeiro álbum). Enquanto isso, Lake seguia firme e forte no ELP, até que as previsões de Fripp se confirmam em 1977, onde o álbum duplo Works gera prejuízos imensos na turnê com uma enorme orquestra, dispensada após poucos shows para uma plateia quase vazia. No entanto, geraria o maior sucesso radiofônico da banda, com C´est La Vie, um sinal claro de que as regras do jogo estavam mudando. O ELP se separa após o ao vivo In Concert, em 1979, e Lake lança o seu primeiro álbum solo em 1981, com a participação de Gary Moore em várias faixas, além de Steve Lukather e outros músicos conhecidos. A belíssima It Hurts (com um dos mais belos solos de guitarra gravados, que muitos atribuem a Moore, mas na verdade é de Lukather) teve razoável execução nas rádios brasileiras.
 

Já Wetton (foto) se juntaria a Carl Palmer (ELP), Steve Howe (Yes) e  Geoff Downes (Yes, The Buggles) para criar o super grupo Asia. A notícia causou alvoroço na época, mas os fãs de progressivo ficaram decepcionados com a verve mais pop, que renderia dois multisucessos. O Asia teria idas e vindas, e Wetton nos intervalos se dedicava a uma bela carreira solo e outros grupos como o Phenomena, que também estourou nas rádios com I Did It All For Love.
 

Emerson e Lake retornaram em 1986, com Cozy Powell no lugar de Palmer, e Touch and Go também passeava por essa tênue linha entre o progressivo e o pop (e eu a considero uma das melhores canções deles). Palmer retornaria na reunião de 1992, mas os discos deles já não chamavam tanto a atenção.
Lake chegou a substituir Wetton em algumas turnês do Asia, pois o baixista estava se tratando de problemas causados por alcoolismo e drogas. Wetton e Geoff Downes também gravam em dupla desde 2001, tendo lançado 7 álbuns até 2015, mas o som não difere muito do prog pop do Asia.

 

King Crimson – 21st Century Schizoid Man

O mais triste é que se calam duas das mais belas vozes do rock em todos os tempos, mas diferentemente dos anos 70, onde alguns discos eram quase inacessíveis, a obra completa de ambos está disponível com facilidade para pesquisa e conferência.
 

E note-se que o progressivo continua firme e forte, com novas bandas surgindo a cada dia (muitas, sintomaticamente do leste europeu), embora ignorado pela grande mídia.
Mas quem precisa da merda da mídia, afinal?

King Crimson – Melody Lament

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