Colunistas Mauro Lopes

Igrejas na Síria confrontam EUA; Papa age pela paz; Rússia desmonta a farsa

Enquanto as igrejas cristãs na Síria condenam em tom enérgico os ataques da coalizão liderada pelos EUA ao país, o Papa atua pela paz e a Rússia desmonta de maneira cabal a farsa das “armas químicas”

Por Mauro Lopes:

Num mundo submetido ao poder imperial do capitalismo em sua etapa mais brutal, tudo é guerra, luta, confronto ideológico. É assim no Brasil na campanha dos ricos contra Lula; assim é em escala global ao redor da guerra na Síria. Provavelmente você não ficou sabendo, porque as mídias controladas pela lógica do sistema esconderam, mas:

1) todas as igrejas cristãs na Síria condenaram de maneira veemente o ataque dos EUA, Inglaterra e França ao país, na noite de sexta-feira (13);

2) O Papa atua pela paz, em articulação com o  Patriarca Ortodoxo Russo Kirill; uma delegação  multirreligiosa síria chegou ao Vaticano no domingo para, nas palavra do líder da comitiva, Nasr Al Hariri, dialogar com “a autoridade moral mundial que pode nos ajudar”;

3) o governo russo apresentou provas irrefutáveis de que a versão ocidental sobre uso de armas químicas pelo governo sírio é falsa.

Patriarcas sírios e os franciscanos em Damasco

Numa declaração conjunta, os três patriarcas sírios afirmaram que “condenam e denunciam a agressão brutal que ocorreu esta manhã (no sábado) na Síria, nosso precioso país, pelos EUA, França e Reino Unido, alegando que o governo sírio usou armas químicas”. A declaração foi assinada por John X, Patriarca Grego-Ortodoxo de Antioquia e todo o Oriente; Ignatius Aphrem II, Patriarca Ortodoxo de Antioquia e todo o Oriente, e Joseph Absi, Patriarca Católico Greco-Melquita de Antioquia, Alexandria e Jerusalém, conforme reportagem de Inés San Martin veiculada no Crux. (a seguir, trechos da reportagem).

De acordo com os religiosos, a “agressão brutal” viola o direito internacional e a Carta das Nações Unidas, porque é uma “agressão injustificada” em um país soberano.

Assim como fizeram outros antes deles, também questionaram a suposta utilização de armas químicas pelo governo sírio, dizendo que tal afirmação, usada para justificar os ataques aéreos, é “injustificada e não é fundamentada em evidências claras e suficientes”.

Na sexta-feira, investigadores de crimes de guerra das Nações Unidas condenaram a suspeita de uso de armas químicas na cidade síria de Douma, na zona leste de Ghouta, e no momento da explosão especialistas viajavam ao país para investigar o suposto ataque que matou dezenas de pessoas.

De acordo com os patriarcas, o fato de o atentado ter ocorrido antes de a comissão dar início aos trabalhos “prejudica” os esforços da investigação. Definindo-o como “brutal” e “injusta”, eles também afirmaram que o ataque incentiva organizações terroristas e “dá força para continuar o terrorismo”.

“Chamamos todas as igrejas dos países que participaram da agressão a cumprir seus deveres de cristãos, segundo os ensinamentos do Evangelho, condenando-a e pedindo que seus governos se comprometam com a proteção da paz internacional”, escreveram.

Nota: depois de postado este artigo veio à luz uma entrevista com o padre Bahjat Elia Karakach, franciscano da Custódia da Terra Santa, superior do convento dedicado à conversão de São Paulo, a principal paróquia de rito latino na capital, e um dos mais respeitados religiosos católicos na Síria. Ele usou palavras duríssimas para denunciar que o governo sírio está sendo alvo de uma mentira alimentada pelos Estados Unidos e pelos seus aliados na Europa, no Golfo Pérsico e no Oriente Próximo.

O padre Bahjat afirmou:

“A quem me pergunta sobre o uso de armas químicas pelo governo, eu gostaria de lembrar que, em 2003, o Iraque foi atacado pelos Estados Unidos e seus aliados com a justificativa de combater um regime que tinha armas químicas. E era mentira”.

E mais: “Toda vez que o exército sírio consegue reconquistar uma área que tinha sido tomada pelos rebeldes terroristas, acontece uma armação para convencer a opinião mundial de que o regime sanguinário precisa ser combatido. Tudo isso é uma grande mentira porque o nosso governo não é estúpido de fazer uma coisa que daria margem para um ataque ocidental. O exército não precisa usar armas químicas, elas já foram desmanteladas sob o controle dos russos, já faz alguns anos. Hoje se avança sem o uso desses métodos para vencer a guerra contra o terrorismo”.

Para o franciscano, as vitórias contra os rebeldes terroristas não interessam ao mundo ocidental e aos seus aliados no Golfo Pérsico: “Isto desagrada quem financia os terroristas. E nós dizemos isto sem papas na língua; o mundo ocidental que sustenta os terroristas, instrumentos e aliados dos estados árabes do Golfo, principalmente a Arábia Saudita, para defender os interesses desses países e de Israel. Digam isso. Falem desta grande mentira, vamos dizer a verdade!”

Assista o vídeo da entrevista a seguir:

O Papa e Kirill; o Vaticano

Na sábado, segundo a agência russa TASS, o patriarca ortodoxo Kirill telefonou para Francisco –desde o encontro histórico em Havana, há dois anos, depois de mais de mil anos de separação e confronto, a Igreja Católica e a Ortodoxa Russa aproximam-se cada vez mais. Segundo Kirill, os dois líderes estão buscando articulações para interromper a guerra e encerrar os ataques à Síria.

Francisco tem buscado aproximação cada vez maior com a Rússia.  Ele pretende ser o primeiro Papa a visitar a Rússia. O cardeal Pietro Parolin esteve no país entre 20 a 24 de agosto –desde 1888 um secretário de Estado do Vaticano não pisava em solo russo; esteve com Putin e com Kirill.

“O resultado é substantivamente positivo” –assim resumiu Parolin o resultado de sua viagem. De fato. Na ocasião, o governo russo comprometeu-se a usar sua força (inclusive militar) no Oriente Médio para defender as minorias religiosas. Além disso, reafirmou-se a identidade entre Moscou e o Vaticano na visão sobre a Síria, de apoio ao governo de Bashar al-Assad e longe dos jihadistas –financiados pelos EUA.

As mídias do Vaticano têm reverberado os protestos das igrejas sírias contra o ataque da frente EUA/Inglaterra/França. Antoine Audo, bispo caldeu de Alepo, denunciou em entrevista à Rádio Vaticano que o bombardeio de sexta provou que a comunidade internacional está tentando fazer na Síria o que fez no Iraque, “quando destruíram o país dizendo que havia armas químicas”. “O que fizeram no Iraque estão fazendo agora na Síria”, disse. O bispo Audo questionou: “Como é possível o Assad ter usado armas químicas para se defender?”.

O bispo caldeu foi incisivo ao desmontar as justificativas de Trump para o ataque: “É surpreendente que o ataque tenha ocorrido justamente quando estava prestes a começar a missão dos inspetores da ONU chamados para investigar o uso de armas químicas atribuído ao regime de Damasco”. Foi mais longe: “Como é possível que Assad – pergunta-se – tenha utilizado armas químicas justo quando o seu exército recuperou a região de Ghouta? Não é lógico”.

O bispo Georges Khazen, vigário apostólico de Aleppo, disse à agência de notícias da Conferência Episcopal Italiana, Sir, que o ataque teve como objetivo inviabilizar na prática a investigação sobre o suposto uso de armas químicas na cidade de Douma: “após essa investida será tudo mais difícil”, pela destruição causada.

A Rússia e a farsa das “armas químicas”

A farsa das “armas químicas” plantada pelos EUA e Inglaterra é insustentável, como o sabem todos os líderes mundiais. E é esta farsa que está na base da reação das igrejas sírias, do Vaticano, do Patriarca Kirill e outros. Ela foi integralmente desmontada pelos russos.

Numa entrevista coletiva, o ministro da Defesa russo, general Ígor Konashénkov apresentou provas de como foi articulada a farsa do uso de armas químicas pelo governo sírio. Na entrevista, foi veiculado um vídeo com um médico e um estudante de medicina do hospital central de Douma mostrando como foi feita a montagem que transformou pessoas vítimas de fumaça proveniente de um ataque a bombas em “vítimas de armas químicas”.

Você pode ver a entrevista com o ministro russo e assistir o vídeo com os médicos sírios clicando aqui ou logo abaixo. É uma reportagem da Sputnik News, agência de notícias do governo russo. Podem argumentar, que “ah, mas é uma agência dos russos” –e o que é a Globo ou as mídias do comerciais globais senão agências do capitalismo? O fato é que as provas da armação são patentes. A seguir, a entrevista com o ministro russo:

Toda a história do suposto agente químico foi armada pelo grupo Capacetes Brancos, que se apresenta à opinião pública como a Defesa Civil síria –há até documentários que os apresentam como heróis destemidos- mas é um grupo patrocinado pelos governos dos EUA e Inglaterra. Os Capacetes Brancos já foram flagrados simulando resgates e confessaram a encenação, portando armas e atuando lado a lado da Al Qaeda. O site dos Capacetes Brancos pertence ao grupo de advocacia The Syria Campaign, registrado na Inglaterra.

Como se pode ver no vídeo dos médicos sírios, um grupo de homens invadiu em 8 de abril a sala de emergência do hospital com várias câmeras de vídeo, com os Capacetes Brancos levando crianças feridas aos gritos de que haviam sido vítimas de armas químicas (quando na verdade estavam intoxicadas por fumaça), começaram a jogar água sobre as pessoas e, logo depois de gravadas as cenas, desapareceram –as imagens aparecerem pouco depois em toda a mídia ocidental como a “prova” do uso das armas químicas. Veja o vídeo dos médicos:

Uma farsa tosca montada pelos Estados Unidos e Inglaterra colocou a paz do mundo em risco. O esforço para a manutenção da paz está operando o quase milagre de unir aqueles que estiveram distantes por muito tempo

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