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Mapuches: luta e resistência

Por Lara Scheneider

A denominação Mapuche se origina da fusão de duas palavras, “mapu” que significa terra, e “che”, que significa gente. Os Mapuche (na língua mapudungun, gente da terra) são um povo indígena concentrado principalmente nas regiões centro-sul do Chile e no Sudeste da Argentina. São historicamente perseguidos e reprimidos e hoje representam cerca de 900 mil habitantes.

A terra caracteriza e dá sentido existencial aos mapuche, fazendo parte desde seu etnônimo (gente da terra) até a espécie de seus sobrenomes, geralmente toponímias do lugar em que historicamente vivem (ou viviam) as diferentes linhagens de parentesco.

O povo mapuche carrega consigo um histórico de resistência. Nunca se inclinaram aos colonizadores espanhóis e, durante mais de 300 anos, travaram inúmeras batalhas contra aqueles que pretendiam usurpar suas terras. Venceram e perderam diversos conflitos, e foram derrotados apenas em 1881, quando o Chile já era independente. Logo, suas terras foram anexadas ao território chileno.

De maneira geral o movimento Mapuche luta pela recuperação de seu território ancestral, por mudanças constitucionais em prol dos direitos indígenas e reconhecimento por parte dos Estados de suas especificidades culturais.

 

O povo mapuche luta ininterruptamente contra os latifundiários, exigindo que saiam imediatamente de seus territórios, lutando por sua sobrevivência e pela preservação da sua cultura e tentando alcançar a liberdade para com seus presos políticos. Por todo o país encontram-se os dizeres pichados nos muros ou em monumentos históricos, ”Libertad a los presos políticos Mapuches!”

Os mapuches reivindicam o fim da aplicação da “lei anti-terrorista”, em vigência no país desde 1984, promulgada no gerenciamento de Augusto Pinochet (1973-1990). Além da lei possuir dispositivos que dobram automaticamente as penas dos condenados, ela ajuda a criminalizar qualquer luta indígena, o que também viola os direitos humanos. Entre outras, a sua atribuição é a supressão do direito ao habeas corpus e a consolidação do “inimigo interno”, mecanismo que possibilita ao aparato policial e militar torturar e prender à bel prazer sob pretexto da violação da propriedade privada, da terra e de “ameaça ao povo”. Aproximadamente 500 pessoas continuam em cárcere no Chile devido a esta lei.

Os indígenas são acusados como terroristas por ações como ocupações de terra ou delitos de caráter reivindicatórios que jamais poderiam ser enquadradas como “terroristas”. Estudos indicam o uso sistemático dos recursos desta lei especificamente contra os Mapuche, estigmatizando assim o movimento e debilitando as garantias processuais de um julgamento justo. 

As causas judiciais requeridas pelos Mapuche geralmente são arquivadas, inclusive aquelas consideradas muito graves, como a morte de manifestantes por policiais. Tal é o caso da morte de Alex Lemun, jovem Mapuche de 17 anos assassinado em 2002, pelo major Marcos Treuer. A causa foi encerrada em 2004 e ninguém foi punido.

Desde então, o povo que representa o maior grupo indígena do Chile luta para ter de volta suas terras, que passaram de 10 milhões de hectares para apenas 300 mil. Durante os anos de conflito, 75% da população mapuche foi assassinada. Hoje, eles são cerca de 6% da população chilena.

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