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Morreu Stan Lee, o quadrinista que humanizou os deuses

Por Maurício Costa.

Talvez, para uma geração mais nova, Stan Lee fosse apenas o velhinho que fez pontas em todos os últimos grandes filmes da Marvel.

Mas, para toda uma outra geração, na qual me incluo, os quadrinhos do Stan Lee, impressos em formatinho pequeno – nossos gibis – foram, muitas vezes, a entrada para o mundo da paixão pela ficção e pelo desenho.

Aprendi a gostar de quadrinhos com o meu irmão. Aos 13 anos, no meu primeiro emprego formal, trabalhei de jornaleiro e, todo mês, gastava o que sobrava do meu salário mínimo comprando a preço de custo as revistinhas da própria banca que me empregava.

Assim fui criando uma coleção de milhares de gibis que guardo até hoje, onde tem de tudo. Mas, dos quadrinhos de heróis, sempre gostei mais dos da Marvel.

Diferentemente dos semideuses superpoderosos da DC, os personagens que ganharam vida na editora de Stan Lee, por mais poderosos que fossem, tinham uma identificação conosco, os mortais, cheios de problemas. Eram perturbados, inseguros, inconsequentes, inconstantes, tomados pelas paixões e dificuldades mundanas.

O espetacular homem-aranha, um órfão que não tinha dinheiro para pagar o aluguel. O cósmico surfista prateado amargurado pela incompreensão das misérias dos humanos. O Hulk – Jekyll e Hyde – afetado pelos raios gama. Os mutantes, as transformações, rebeldias e angústias da juventude e a luta contra o racismo.

Stan Lee teve habilidade ímpar de ser permeável ao seu tempo para criar um produto de entretenimento de massas. No auge da corrida espacial criou uma família de astronautas, seu primeiro sucesso, o Quarteto Fantástico.

Nos anos 60, em meio às fortes lutas da negritude estadunidense, criou o Pantera Negra, primeiro herói negro a ser protagonista de uma HQ de grande circulação. Na mesma década em que surgiram os X-MEN e sua abordagem dos conflitos étnicos.

Como seus personagens, humano, Stan Lee morreu. Há algum tempo eu já não o acompanhava. Interrompi minha coleção e fui buscar outras leituras. Mas, pode ser saudosismo, espero que seus personagens e os “filhos” deles, para além das telas de cinema, sigam nas HQs permeáveis e atraentes para os novos tempos.

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