João Marcos Rainho

O Brasil quebrado não para de crescer

Praias cheias, estradas congestionadas, restaurantes, padarias e supermercados lotados. É a nossa temporada de verão

Há um ano conta-se sistematicamente a lorota que o Brasil está quebrado. Políticos oportunistas, vendedores de indicadores e jornalistas desavisados se uniram para criar um clima de fim de mundo. O compartilhamento de notícias falsas virou febre nas redes sociais. Os boatos negativos são um desastre para a economia. Criam um clima de desânimo e influenciam as decisões de investidores e empresários, contribuindo para o fenômeno conhecido como “profecia auto-realizável”. Se as coisas estão ruins não vou investir nem comprar. É assim que a massa pensa contribuindo para uma real piora da conjuntura. Maus empresários aproveitam-se desse clima para fazer demissões em massa, que normalmente seria punidas pelo Ministério do Trabalho, com a justificativa da “crise”, e assim fazer mais com menos. O desemprego cresce realmente e o consumidor se retrai. Temos aí a tempestade perfeita.

Apesar de tal sabotagem, o Brasil está bem e cresce. Dúvidas? Veja essa temporada de verão na Baixada Santista. Estradas lotadas, hotéis com a capacidade total ocupada, restaurantes, padarias, bares e supermercados cheios. Filas para gastar. Evidentemente, o turista está mais seleto e não gasta tanto como gastaria em outro momento. Alguns setores ganham mais, como a área de gastronomia e outros perdem como vestuário. Mas depende de empresa para empresa. Tem loja vendendo bem, e outras nem tanto. Dê uma passadinha também na Ponta da Praia, em Santos, e observe o movimento crescente dos navios. As exportações estão batendo recordes sistemáticos.

Depois da briga política para tomar o poder, as coisas vão voltando aos eixos. A produção da indústria paulista cresceu 1,6% no final do ano passado. É pouco, mas supera um histórico de quedas. A produção do aço caiu quase 10% em 2016, devido a queda, principalmente das vendas da indústria automobilística.

As vendas de veículos novos caíram 20% em 2016, mas as vendas de usados ficaram estáveis. Olhando numa perspectiva de longo prazo, as coisas não estão tão maus assim para o setor automotivo:  o Brasil saltou de 12º produtor mundial de veículos para a 6ª posição. Há pouco tempo o número de montadoras no Brasil podia ser contado com os dedos de uma mão. Hoje são duas dezenas. Foram vendidos ano passado 2 milhões de veículo novos. Nada mal para um país “quebrado”.

Nesses tempos de crise artificial, o comércio tem que se proteger criando algumas estratégias, como promoções e campanhas. E melhorar o atendimento. O dinheiro existe, está no bolso do consumidor. Mas o consumidor reluta em gastá-lo e escolhe melhor. A temporada de verão é a melhor época para ganhar novos clientes e reter os clientes locais. Entretanto, alguns comércios, principalmente em Praia Grande e Guarujá punem o consumidor local com aumentos abusivos naquela prática autodestrutiva de querer ganhar na temporada o que não se ganha nos demais meses. Quando os turistas vão embora, os residentes lembram do tratamento abusivo e deixam de comprar com os espertinhos.

 

As cidades da Baixada Santistas são autossuficientes. Tem uma população fixa que mantém um comércio local forte. A temporada é um plus para alguns setores que vivem do turismo. Os mesmos setores que também atende aos residentes, exceto os hotéis.  Privilegiar o cliente local, sem maltratar o turista, claro, é criar uma base de compradores sólida. Base essa que será fiel nos momentos de vacas magras e na pós-temporada.

A questão do bom atendimento e qualidade dos serviços ajudam a compor a fidelidade. É só observarmos os estabelecimentos comerciais da região. Oficinas mecânicas, por exemplo, uma vazia outra cheia, uma ao lado da outra. Lojas de roupas idem. Restaurantes também. Por que isso acontece? Descubra a resposta, se você for o empresário “vazio” terá bons cases de negócios.

Instalações adequadas, procedimentos e produtos de qualidade. São os fatores anti-crise. E mais ainda: treinamento da equipe e divulgação. O treinamento inclui a capacitação do empresário, que deve estar atualizado sobre as modernas técnicas de marketing e de gestão.  Os tempos mudam e o sucesso de hoje não significa que as coisas continuarão sempre como imaginamos.  Os mercados mudam, as pessoas mudam.

A comunicação é outro fator para ser usado principalmente nos momentos de queda de vendas. Para economizar, alguns comerciantes cortam a verba, pequena, de publicidade. Ficam ainda mais isolados ao não se comunicar com o mercado. Clientes potenciais irão esquecer deles. E a bola de neve do quadro negativo se agrava.

Nesse quadro temos ainda o contexto das políticas públicas. Governos podem ajudar ou atrapalhar os negócios. As vezes fazem ambas as coisas simultaneamente. A zeladoria das cidades pode facilitar ou afugentar clientes. Lixo nas ruas, falta de segurança, dificuldades em encontrar estacionamento e a indústria das multas são alguns fatores que fazem o consumidor optar por ficar em casa. Pense nisso nas próximas eleições e cobre os vereadores.

A participação política do cidadão é muito importante, fiscalizando as ações do poder público e exigindo que a gestão das cidades seja dirigida para o bem comum e não para os interesses mesquinhos ou para financiar o homem da mala preta.

Enquanto o cidadão-trabalhador e o cidadão-empresário não perceberem o que tem em comum em prol do desenvolvimento sustentável da cidade estaremos reféns de improvisos e competição entre setores econômicos para fazer valer seus lucros de curto prazo.

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