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O Datafolha e a escultura de Romero Brito

Por Ricardo Cappelli
1 – Com os números atuais – 37% de ótimo e bom e 27% de regular -, Bolsonaro seria reeleito. Claro que ainda faltam dois anos para a eleição, mas é bom ficar atento. Temos em 2020 mais de 100 mil mortos, e o PIB deve ter uma queda histórica próxima de 6%. Os dois anos que restam de mandato serão melhores ou piores do que a catástrofe atual?
2 – Bolsonaro conseguiu uma vitória política. Consolidou em grande parte da sociedade a falsa contradição entre medidas sanitárias e defesa da economia. Duvida? Pegue a curva de geração de empregos e de retomada da atividade econômica. O fundo do poço foi abril, a curva dos indicadores econômicos apontou para cima a partir de junho. Ele começou a subir. Coincidência?
3 – O capitão está remontando seu governo. Sai o estridente general Heleno e entra o habilidoso e discreto general Ramos. Sai o inexpressivo major Vitor Hugo e entra o experiente Ricardo Barros. Circula em Brasília que mais substituições estão a caminho. Pazzuelo e Ricardo Salles estariam na fila das demissões. Restaria do núcleo tresloucado apenas o exótico Ernesto Araújo. A Lava Jato foi enquadrada. Restou a Moro o papel de “mimimi”.
4 – O presidente está deitando e rolando em cima do auxílio emergencial. Deu certo com Lula, com 150 reais, com 600 não tem como dar errado. A popularidade vai embora quando o benefício acabar? É sempre uma hipótese. O lendário ex-deputado Silvio Costa disse outro dia que o “povo fica grato sempre a quem deu a última ajuda”.
5 – Desde março está claro. Popularidade ou Guedes? É um ou outro. O mundo é keynesiano. Bolsonaro nunca foi um liberal, se o tal mercado caiu nessa foi por absoluta ignorância histórica. O objetivo atual do Planalto é fechar a equação que coloque de pé o Renda Brasil e sobre “uns trocados” para algumas obras. Se ainda der para manter o “Posto Ipiranga manco” como animador do mercado, melhor ainda.
6 – Atenção aos movimentos da China. Foi o general Geisel quem reatou relações com o gigante comunista em 1974, em plena Guerra Fria. A esquerda alimenta uma visão romântica inocente com o Império do Meio. Esquecem que Mao também recebeu Nixon em Pequim em 1972. Os militares são pragmáticos. Os chineses também. Mourão virou habitué entre eles.
7 – Não existe oposição. Os “ex-70%” são uma fragmentação fictícia. Ninguém se entende para nada. Não é possível marcar um cafezinho entre os principais líderes dos partidos de esquerda – para nem falar da oposição liberal, que anda mal das pernas. Está interessante a disputa fratricida pela hegemonia da derrota. Haraquiri é pouco. Talvez, depois do desastre eleitoral iminente nas eleições municipais, a esquerda se dê conta de que o povo lhe fez uma bela “lipoaspiração”.
8 – O negacionismo está na moda no campo progressista. Já apareceu de tudo para explicar a popularidade de Bolsonaro. Tem gente culpando a escravidão, a alienação do povo, a cultura judaico-cristã e até Calvino! Recusam-se a reconhecer que o Brasil quebrou nas mãos da esquerda com Joaquim Levy na Fazenda e 12 milhões de desempregados. Será que o povo não percebeu?
9 – Espanta o discurso do campo progressista sobre os problemas brasileiros. É como se não tivesse sido governo durante 13 anos. Reforma Tributária Progressiva! Por que não fez? A participação da indústria no PIB em 2020 é a mesma de 1910, uma tragédia. Poucos compreendem a necessidade de um Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento. E para cuidar dos pobres, pode estar a caminho o Renda Brasil.
10 – Qual a agenda da esquerda no dia em que sai o Datafolha? A falta de educação de Romero Brito e a destruição de sua escultura. A ausência de conexão com as agendas reais do povo é objetiva, mas a turma anda preferindo lacrar nas redes a conversar com seu João e dona Maria. Nesta batida, é bom torcer para que a centro-direita tenha um candidato. Do contrário, pode dar reeleição no primeiro turno.
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