Baixada Santista

“Os sete” crônica de Igor Reis

Por Igor Reis.

 

  Cinco horas da manhã.

  Nome popular : Terezinha.

  – Dona Tereza do que?

  – Tereza não, Terezinha…

  Dia 14 de Março de 2019, fazendo o mesmo percurso que toda sua família faz durante três gerações, e todas carregando os sete filhos nordestinos : Esperança, Humildade, Solidão, Fome, Sede, Sofrimento e Coragem.

  Todas as gerações partindo do mesmo Terminal Rodoviário com destino ao Sudeste, nada muda, em três gerações pra mais…

  Pagou sua passagem com o dinheiro que juntou depois de ter a filha mais nova , Coragem. Entrou no ônibus, preparou-se para os sete dias de viagem.

  Terezinha lembra de quando estava com a Coragem no colo depois de um dia do nascimento. Então todos os outros filhos  juntaram-se em volta dela e ficaram um tempo com o bebê no colo e cochichando entre eles… A filha mais velha, Esperança, chegou em Terezinha com o bebê e disse que aquele momento era a hora de fazer as malas…

  Sete dias de viagem em um ônibus capenga, tendo que racionar água e comida não é fácil pra ninguém. Diante de todas as dificuldades,  todos os nordestinos que estavam no ônibus se ajudavam, a Solidão sumiu de hora pra outra que mesmo sua mãe não percebeu.

  Mesmo sem saber o que é comunismo, todos os passageiros socializaram suas marmitas e água. No meio de tudo isso, as filhas Fome e Sede também desapareceram…

  Finalmente Terezinha chega no sudeste, um mundo novo. Dividiu um cortiço no centro da cidade junto com outras famílias que a acompanharam na viagem.

  Um dia depois da chegada foi procurar emprego no centro comercial. Teve que levar suas filhas junto, pois ainda não tinha confiança em ninguém. Depois de uma semana passando 12 horas por dia na rua atrás de um “bico” qualquer, conseguiu como ajudante de cozinha no restaurante do Seu Joaquim.

  Depois de três meses, Seu Joaquim resolve passar Terezinha na experiência fazendo o jogo das palavras e das mentiras. Com toda a felicidade do mundo ela pega sua carteira de trabalho com as lindas cores de nossa bandeira.

  Passaram mais três meses e ela é demitida porque precisam cortar gastos.

  Mas desta vez, já passou um ano e Terezinha não teve sorte de arranjar um emprego…A maioria dos “nãos” foram por puro preconceito enraizado na elite e classe média extremamente direitista.

  Por não conseguir pagar o aluguel do cortiço está morando em um prédio abandonado com seus filhos. Todos já passaram por muita coisa… A Humildade foi pisoteado pelos senhores de engenho modernos; a Coragem, estuprada pelo preconceito; o Sofrimento foi descoberto pelo SUS com uma doença degenerativa…

  Terezinha viu a Esperança ser espancada por cada um desses problemas, mas ela sabe que sua filha vai viver de cabeça erguida até o último suspiro!

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