Cidade Santos

PSOL lança a pré-candidatura Marias no Mandato Coletivo Feminista para a Câmara de Santos

Por Cidinha Santos.

Pré-campanha é inédita na Baixada Santista. As mulheres pretendem ocupar uma vaga no legislativo santista com o olhar voltado para seu local de origem, a periferia. Por um mandato feminista, anticapitalista, antirracista, antilgbtfóbico e ecossocialista

Um grupo de mulheres ativistas feministas do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), da Baixada Santista, lançará a pré-candidatura Marias no Mandato Coletivo Feminista à Câmara de Vereadores de Santos, nas eleições de 2020. O mandato será mais uma ferramenta a serviço da fiscalização das políticas públicas, do direcionamento e gasto dos cofres públicos, e mobilizar a sociedade para conseguirmos debater e buscar solução para tudo o que nos atinge, utilizando as redes sociais e fazendo pressão pelas nossas pautas, em atividades organizadas e construídas coletivamente. Pretendemos combater todas as formas de opressão que atingem homens e mulheres. Entendemos que o machismo e o racismo estão enraizados na sociedade e por isso o feminismo que defende direitos iguais para todos, debatendo sobre o porquê do preconceito racial e outros.

Esta é a primeira experiência de mandato coletivo do PSOL na Baixada Santista. A ideia surgiu a partir de experiências realizadas na cidade de São Paulo e no estado de Pernambuco, onde mandatos coletivos foram vitoriosos nas eleições de 2018.
Recentemente, mulheres de Porto Alegre (RS) e São Paulo (MTST) também anunciaram pré-candidaturas coletivas.

A retomada coletiva das atividades feministas na Baixada Santista, nos últimos cinco anos criou a necessidade de ampliar nossas ações a partir de outras ferramentas como a atuação no parlamento. Esta pré-candidatura coletiva feminista é também resultado do anseio de várias feministas que somam conosco neste desafio, no apoio, na preparação das pautas e num futuro conselho político. Com a certeza de que “quando uma mulher avança nenhum homem retrocede”, a compreensão das mulheres que compõem esse projeto de pré-candidatura é de que um mandato de esquerda e feminista deve ajudar na organização e mobilização da população que compõe a classe trabalhadora, especialmente a residente nas regiões mais periféricas, as mulheres negras, base da pirâmide social brasileira.

As pré-candidatas, ativistas feministas do Marias no Mandato Coletivo Feminista reúne mulheres do movimento negro, feminista, sindical, estudantil, da educação, da habitação, da saúde e da cultura.

Na chapa está a professora universitária Aldenir Dida Dias, doutora em Ciências Sociais, a jornalista Cidinha Santos, ex-sindicalista e assessora do Coletivo Feminista Classista Maria vai com as Outras e outros movimentos sociais, a ativista do ecossocialismo, Luciana Jorge, que coordena, em Santos, o grupo de usuários da cannabis para fins medicinais e participa do curso de extensão no Núcleo de Pesquisa em Saúde sócio ambiental (NEPSSA), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e a jovem estudante Thaís Helena, do curso de Serviço Social, feminista, negra e militante do movimento de habitação em especial no Dique da Vila Gilda em Santos.

A professora Aldenir Dida Dias, feminista e integrante do PSOL desde a sua fundação, representará o grupo da pré-candidatura coletiva. Atualmente, desenvolve projeto de pesquisa cultural sobre cultura quilombola, povos indígena e caiçara. Dida Dias vem de uma longa história de luta das mulheres trabalhadoras, desde o final da década de 1970, junto aos sindicatos da Baixada Santista e nos movimentos de mulheres contra a carestia, por moradia e por creche ao lado de outras companheiras – como Gemma Rebello. Sua luta segue contra o machismo e contra o racismo e na construção de um feminismo anticapitalista. Dida Dias lembra que no início “já éramos feministas naquele tempo, mas não tínhamos essa consciência”.

A jornalista Cidinha Santos, militante feminista complementa “Para nós, é muito evidente a necessidade da esquerda ocupar espaços e aumentar a representação popular, principalmente das mulheres e pessoas negras da periferia cada vez mais atingidas pelas políticas nocivas dos governos de plantão e que destroem os direitos dos trabalhadores conquistados em razão das lutas sociais durante séculos”.

A ativista Luciana Jorge, oficineira de produção de aquecedor solar de baixo custo e também participa da Marcha da Maconha. Ela traz ainda a experiência de sua militância no movimento estudantil, na década de 1980. A ativista tem sua história marcada pela luta e denúncia dos grandes empreendimentos que destroem o ecossistema local, como a cava subaquática, que torna a vida nas periferias da Baixada Santista muito mais vulnerável, além da defesa dos indígenas, principalmente os da Aldeia Tekoá-Paranapuã.

Para Thaís Helena, é preciso lembrar que o Brasil é fruto do estupro, de estupros de mulheres indígenas e africanas e sua descendência, a violência contra as mulheres e a população negra e periférica entranhada no ventre dessa nação que é cativante e áspera, acolhedora e cruel ao mesmo tempo. E queremos levar essa discussão para o conjunto da classe trabalhadora.
Onde as mulheres estiverem lá estaremos

O Marias no Mandato Coletivo Feminista vai debater sobre o machismo e racismo estruturais. As mulheres trabalhadoras são a maioria na educação, na saúde e na assistência. Em algumas regiões, cerca de 60% são chefes de família e as únicas responsáveis pelos cuidados e pelo acesso de filhos e parentes aos serviços públicos de educação, saúde e assistência, além do mais, essas mulheres vivem cada vez mais numa situação de violências, a casa e a rua é um campo de guerra para elas.

Nossas pautas

É importante considerar que esta eleição será nacionalizada, pois com o congelamento de gastos por vinte anos, o governo federal retirou proteções sociais com o objetivo de reduzir o déficit, mas isso não aconteceu, portanto não há recursos para manter e/ou investir nas políticas públicas, prejudicando ainda mais a vida dos mais pobres. A tributação das grandes fortunas e a tabela progressiva de Imposto de Renda poderia dar um pouco de ar às trabalhadoras e trabalhadores.
Com a situação de pandemia no mundo inteiro, a crise sistêmica que já vinha ocorrendo em vários países, principalmente naqueles dependentes como o Brasil, a vida da classe trabalhadora piora, inclusive porque está alinhada com a crise política de um governo economicamente entreguista das riquezas nacionais, politicamente autoritário e com ações fascistas e corruptas, ligadas às milícias. O desgoverno brasileiro se tornou o maior impedimento para enfrentamento da crise sanitária neste tempo no mundo inteiro.
Na educação, as bandeiras da década de 1980, como o direito à creche e escola pública e de qualidade continua atual e será nossa prioridade, além da falta de qualidade e horários inadequados para crianças e adolescentes, mães fazem parte de nossas preocupações. Na saúde o quadro não é muito diferente, o SUS nosso orgulho neste momento de pandemia, porém com a redução e o abandono das políticas públicas este é dos segmentos mais atingidos. Sem esquecer a questão do número de trabalhadores/as reduzido e dos salários dos servidores, responsabilizados pelos governos pela má qualidade dos serviços, justificando a privatização/terceirização das políticas públicas por meio das Organizações Sociais (OS).
Na habitação a população periférica é invisível. Diversos projetos habitacionais abandonados, moradias insalubres numa cidade invisível onde ainda está em pleno desenvolvimento altos projetos de construção de prédios com mais de 20 andares. Sem contar o descaso com o meio ambiente, a falta de arborização que faz com que a ventilação marinha não chegue à periferia, aumentando o calor, além da impermeabilização das vias não permitindo o escoamento das águas da chuva.
Marias no Mandato Coletivo Feminista para a Câmara de Santos

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