Cidade Cubatão

Refinaria de Cubatão sofre surto de casos suspeitos de COVID-19

 

 

Sem atender reivindicações dos sindicatos e trabalhadores para combater o vírus, direção bolsonarista da Petrobrás assiste de braços cruzados a Covid-19 se espalhar em suas unidades e o medo se alastrar entre os trabalhadores

Sem uma ação urgente e efetiva da direção da Petrobrás, a Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão (RPBC) corre o risco de se transformar num dos principais focos da Covid-19 na Baixada Santista. É o que aponta a multiplicação de casos suspeitos do novo coronavírus num único grupo do regime de turno da unidade. Nos últimos 3 dias, 15 técnicos de operação do grupo 5 passaram a apresentar sintomas característicos da doença, como mal-estar, tosse, febre e dores de cabeça.

O que causa mais indignação é o fato de que, duas semanas atrás, esses mesmos trabalhadores enfrentaram a gerência local para impedir a propagação do vírus na refinaria. Enquanto aguardava o resultado para Covid-19 em um de seus empregados, a gestão não viu problemas em suspender o afastamento e determinar o seu retorno ao trabalho. E o pior, no Centro de Controle Integrado (CCI), um setor sem ventilação que concentra 30 empregados. Foi só após a reação corajosa e correta desses trabalhadores, hoje sob suspeita de contaminação, que a empresa recuou. Ainda assim, parcialmente, pois em vez de garantir o isolamento do trabalhador decidiu transferi-lo para o Setor de Transferência e Estocagem (Setrae), na avaliação dos gestores uma área “mais segura”.

Diante disso, a reação exemplar dos trabalhadores pode ter sido, infelizmente, tardia. Em primeiro lugar, porque foi confirmada a contaminação do trabalhador que a empresa determinou o retorno ao trabalho sem resultado de seus exames. Em segundo lugar, porque os casos sob suspeita são potenciais transmissores do vírus não só para outros trabalhadores, mas para suas famílias. Os primeiros sintomas, em alguns deles, surgiram um dia antes de desfrutarem a folga de 72 horas em suas casas. Em poucas palavras, caso atestem positivo, podemos estar diante de uma disseminação descontrolada num grupo com cerca de 70 trabalhadores, que convivem com esposas, maridos, filhos, avós. Em outros grupos, como o 4, e o 2, já surgiram as primeiras confirmações de Covid-19 – algumas inclusive com internados em UTIs. O sinal vermelho está aceso, só a gerência não vê.

Direção da Petrobrás reproduz negacionismo de Bolsonaro
Devotos do Deus-Mercado, defensores da privatização e bolsonaristas: esse é o perfil dos que hoje comandam a Petrobrás em meio à pandemia. Não por acaso, reproduzem o negacionismo e a indiferença do presidente diante da vida. Colocando o lucro dos acionistas acima da saúde dos trabalhadores, são os grandes responsáveis pelo drama que a categoria petroleira vive.

Apesar dos insistentes alertas e reivindicações, dos sindicatos e categoria desde o início da pandemia, a direção da empresa ignorou todas as medidas de prevenção indicadas para combater o novo coronavírus em suas unidades. A primeira, e mais importante, pois segue a orientação da OMS de isolamento social, seria a manutenção somente dos trabalhadores necessários às atividades essenciais, colocando em quarentena todos aqueles que desenvolvem atividades que podem ser adiadas. Mas de olho na queda de produtividade e metas, a direção ignorou a sugestão e o resultado é trágico.

Segundo relatório da própria empresa, o Sistema Petrobrás tem mais casos confirmados de Covid-19 que o Mato Grosso – estado que possui 3,2 milhões de habitantes e 417 contaminados nos números oficiais. Até o fechamento desta reportagem, na companhia já haviam mais de 1.800 casos suspeitos aguardando resultados de exames e 854 casos confirmados, sendo 496 de terceirizados e 358 de empregados próprios.

Não há dúvidas de que esses números se explicam pela indiferença da alta administração com as vidas em jogo. Na RPBC, por exemplo, durante todo o mês de março os trabalhos não essenciais como pintura de TAG e escadas foram mantidos, expondo desnecessariamente um número considerável de pessoas.

Além de se recusar a reduzir suas atividades, se adequando a um contexto de crise humanitária sem precedentes, a direção da empresa vem se recusando a testar e afastar os trabalhadores com sintomas. Há ainda indiferença a outras ações, já solicitadas pelo Sindicato, como maior cuidado na exposição de alimentos, desinfecção das catracas de acesso, mais rigor na limpeza dos mobiliários e equipamentos, distanciamento nas filas e mesas do restaurante, reabertura do outro restaurante e campanhas de conscientização. E, mais grave, segue sendo negligente com a adoção de medidas simples como o fornecimento de álcool gel e máscaras.

Os membros da CIPA da RPBC, já no início de março, exigiram distribuição de álcool gel em todos os setores e principalmente na CCI. Porém, só chegou – e ainda assim em número insuficiente – na segunda quinzena de abril. Isso ocorre, em parte, pelo desprezo da direção da Petrobrás diante das contribuições de quem melhor conhece a situação atual de suas unidades e que está vivendo o risco diário de contaminação. Em outra medida, ocorre também pela centralização das decisões na sede da empresa, no Rio de Janeiro, o que impede uma atuação mais rápida e adequada às particularidades de cada local.

Para se ter uma ideia da situação de abandono, o uso de máscaras nas refinarias foi iniciativa dos próprios trabalhadores e do Sindipetro-LP. Tal ação poderia ter partido da Petrobrás, mas sua alta administração parece contaminada pelo bolsovírus. Na RPBC, com número insuficiente para toda força de trabalho, algumas máscaras passaram a ser entregues somente no final do mês de abril.

Sindicato é proibido de entrar na refinaria
Nesta semana, com os casos de negligência se multiplicando, o sindicato passou a receber inúmeras denúncias de descaso da gerência da RPBC diante da pandemia. A direção sindical foi até a refinaria averiguar as denúncias, mas teve o seu acesso bloqueado. Tal proibição não faz nenhum sentido, uma vez que a única prerrogativa legal para a empresa tomar essa postura é em período de greve. Uma prática antissindical sem precedentes, que conspira não só contra o movimento sindical, mas contra a vida dos trabalhadores. Num momento grave como este, o Sindicato não deveria ser considerado um inimigo, mas sim um ponto de apoio no combate à Covid ao ser o principal instrumento da categoria para apresentar as melhorias e ações necessárias.

Salvar a vida dos trabalhadores, não o lucro dos acionistas!
Em nome da preservação da economia, neste caso o lucro dos grandes empresários, Bolsonaro apela ao retorno à “normalidade”. Em nome da produtividade, e dos interesses dos acionistas privados, a direção da Petrobrás finge que tudo está normal. Chega! O lucro não está acima da vida!

Por isso, acompanhando uma necessidade do país e diante dos inúmeros casos suspeitos não investigados, exigimos da Petrobrás ações concretas para barrar o avanço da Covid-19 em suas unidades. Em primeiro lugar, reiteramos a exigência pela manutenção somente das atividades essenciais na unidade. Além disso, é preciso testar todos os trabalhadores, pois recursos existem; o que falta é responsabilidade para tal. E para os trabalhadores com suspeita de Covid-19, chega de paliativos irresponsáveis como transferências para setores “menos perigosos”. A única saída é o isolamento social.

Por fim, aos trabalhadores com sintomas do novo coronavírus, pedimos que utilizem o ‘Clique Covid’ para registrar a suspeita. Já cobramos melhorias neste sistema ao RH Corporativo, que se comprometeu a efetuar os ajustes necessários para acelerar o atendimento. Mas diante das falhas recorrentes, pedimos para que também procurem o Departamento de Saúde Ocupacional da empresa em cada unidade. Na RPBC, o telefone é (13) 3328-4134.

Em relação às demais medidas de prevenção, como fornecimento de álcool gel para todos os trabalhadores, máscaras e higienização de todos os setores, equipamentos e mobiliários, a cobrança do Sindicato tem sido diária e as denúncias da categoria têm fortalecido nossa atuação, pressionando a direção da empresa a agir. E, evidentemente, exigimos que a direção da RPBC libere a entrada dos dirigentes sindicais, suspendendo a postura autoritária e illegal que tomou ao bloquear o acesso da representação legal da categoria à unidade.

A preservação da saúde e da vida dos petroleiros e petroleiras, que estão se arriscando cotidianamente para que não falte combustível e nem gás de cozinha aos brasileiros, é da alta administração da Petrobrás. Mas sabemos que não virá será sem luta e resistência. Juntos, vamos vencer a política genocida de Bolsonaro, superar esta pandemia e construir um Brasil mais justo, solidário e soberano.

 

Fonte: Sindipetro – LP

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