Frequência Caiçara

Slammer, Michelle Souza, 17 anos: a poesia falada; um grito de “reexistência”

Por Ailton Martins

Michelle Souza autora do livro “Avoa” tem 17 anos e desde pequena alimenta paixão pela literatura, mas o ato de escrever; de colocar sua ideias e sentimentos no papel somente ganhou força em sua vida quando começou a participar do projeto de Slam Pira VDC desenvolvido na escola municipal Dr. José da Costa e Silva Sobrinho, no Piratininga, quando cursou o ensino médio.

Segundo Michelle, o projeto de slam na escola teve um impacto em sua vida que viria mudar toda a sua perspectiva de mundo, foi por meio dele que teve a oportunidade de se expressar e também de ter acesso à informações e discussões relevantes, que até então desconhecia.

“Quando a professora Luiza passou nas salas de aula para convidar os alunos para participar, eu quiz na hora, sempre gostei muito de escrever, e ai a coisa começou. A professora Luiza sempre nos incentivou muito, e não somente na escola, ela começou a levar a gente pra São Paulo pra conhecer os poetas e os slam de lá, e isso foi transformador, havia uma discussão sobre, sabe a gente só conhece poetas mortos, e tava na hora da gente conhecer os poetas vivos, e foi assim, ela colocava todo mundo dentro do carro dela fim de semana e a gente subia pra São Paulo. Minha mãe já até tava acostumada, “mãe vou pra casa da professora Luiza”, ela respondia: “ah tá, não vai dormir em casa hoje”

Foto: Ailton Martins

Moradora da Vila dos Criadores, bairro periférico da cidade de Santos, a oportunidade de lançar o primeiro livro “Avoa”, veio por meio de uma parceria entre o poder público e empresários. (com públicação pela Realejo Livros, com tiragem de 500 exemplares, 200 distribuídos nas bibliotecas da rede pública de ensino e 300 para autora). Para Michelle um sonho realizado que se deve ao incentivo de professores, a direção da escola e de todas as pessoas amigas que sempre estiveram presentes e estimulando: “Avoa Michelle”, contudo, o sonho não para, e afirma: “é só uma reticência, sabe? Não vou parar de escrever”. Além do mais, a escrita de acordo com ela é uma necessidade de expressão, de falar de assuntos que concernem, por exemplo, ao seu bairro, carente de infraestrutura, por isso, suas poesias são também instrumentos de ressignicação da própria existência como jovem slammer, mulher preta e periférica.

Sobre o slam

“A poesia falada e apresentada para grandes plateias não é um fato novo,  porém, a grande diferença é que hoje a poesia falada se apresenta para o povo e não para uma elite — estamos falando da poesia slam. Essa palavra surgiu em Chicago, em 1984, e hoje a poetry slam, como é chamada, é uma competição de poesia falada que traz questões da atualidade para debate. Slam é uma expressão inglesa cujo significado se assemelha ao som de uma “batida” de porta ou janela, “algo próximo do nosso ‘pá!’ em língua portuguesa”, explica Cynthia Agra de Brito Neves, em artigo recém-publicado na revista Linha D’Água. Nas apresentações de slam o poeta é performático e só conta com o recurso de sua voz e de seu corpo”.

(Fonte Frequência Caiçara)

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