Cidade Praia Grande

‘Trilheiros’ salvam animais do abandono e promovem inclusão social

Por Isabela Weiss e Gabriel Bruno

Um grupo de trilheiros faz com que o Portinho de Praia Grande deixe de ser um lugar onde cães e gatos são abandonados para a morte na maré. Ao mesmo tempo, integra deficientes visuais, idosos e pessoas com problemas de locomoção e de saúde, entre outros, aos participantes das expedições por todo o Estado, principalmente no litoral. O Trilheiros Caiçara, como é conhecido, tornou o contato com a natureza “uma lição fantástica de superação” e também de solidariedade, afirma a trilheira Márcia Maria Pina de Lucena, de 47 anos, fundadora do projeto.

O objetivo principal da iniciativa é realizar trilhas gratuitas, mas também arrecadar ração, fazer doações para caridade e limpar áreas florestais, além de manter ações sociais e iniciativas contra a depressão. O grupo começou com seis pessoas e, hoje, conta com quase 300.

Graças aos trilheiros, os cães e gatos deixados com frequência na área do Portinho não morrem de fome. Tudo começou quando a professora Márcia Natalina Karabolsak, de 53 anos, e Sueli Silva, de 48 anos, uma das mais antigas moradoras do local, resolveram dividir o pouco que têm para cuidar dos animais.

As duas passaram por muitas dificuldades, já que a quantidade de bichos era grande e, com o tempo, se tornava ainda maior. Era necessário muita ração e tratamento médico, porque alguns se encontravam em estado grave.

Trilha na cachoeira Véu da Noiva, no Parque Perequê: fora da zona de conforto — Foto: Arquivo pessoal/Márcia Maria Pina de Lucena

Trilha na cachoeira Véu da Noiva, no Parque Perequê: fora da zona de conforto — Foto: Arquivo pessoal/Márcia Maria Pina de Lucena

Márcia Natalina já era, na época, uma trilheira Caiçara, e conseguiu que o grupo se engajasse na arrecadação de ração para os animais abandonados. É o que, até hoje, garante a sobrevivência de dezenas de cães e gatos.

O grupo também realiza ações de vários outros tipos, como a recente aula de educação ambiental e de caiaque para crianças, no Portinho, que resultou na doação de caixas de chocolates para jovens e idosos de instituições carentes. Foram arrecadadas mais de 400 caixas, doadas para 13 instituições.

A inclusão social é outra marca do grupo. Márcia Lucena conta que para determinadas limitações são necessárias trilhas especificas. Mesmo assim, não há exclusão. Todos participam e o resultado “é sempre gratificante”, segundo ela. “Na natureza, a gente sai da zona de conforto e acaba testando o psicológico a todo momento. Depois que volta, as dificuldades cotidianas se tornam quase nada perto do que a pessoa já passou”.

Além disso, o grupo conta com parcerias que proporcionam diferentes atividades, como aulas de sobrevivência na mata e a limpeza de áreas florestais. Sempre que o grupo vai para uma aventura, leva sacolas, e na volta recolhe todo o lixo encontrado pelo caminho.

Márcia Lucena (à dir.) guia o grupo na Fazenda Iperó, em Sorocaba — Foto: Arquivo pessoal/Márcia Maria Pina de Lucena

Márcia Lucena (à dir.) guia o grupo na Fazenda Iperó, em Sorocaba — Foto: Arquivo pessoal/Márcia Maria Pina de Lucena

No início, Márcia Lucena diz que houve muitas dificuldades. Ela afirma que chegou a ser ameaçada por empresas de turismo, porque fazia as trilhas de forma gratuita, já que muitos participantes não tinham condições financeiras.

Um dos trilheiros que participam das atividades desde o início é Luciane Mari Knapick, de 39 anos. Ela conta que a decisão de se juntar ao grupo provocou mudanças importantes. “Eu era uma pessoa extremamente fechada, e hoje evoluí muito. Comecei a me soltar bastante. Conheci rituais indígenas e a medicina da floresta, entre outras coisas”.

Luciane diz que as trilhas são “uma terapia”. “Eu adoro andar na mata, me tranquilizo muito por lá. Antes de começar, sempre fui muito depressiva. Se me sinto assim de novo, vou para mais uma experiência dessas e já me sinto melhor”, conclui.

*Sob supervisão de Alexandre Lopes

Fonte: G1

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