Colunistas Márcia Simões Lopes

O Guarda Roupas

Por Marcia Simões Lopes.
Compulsão é o amargor da alma; um descontrole a partir da mente e levado para o corpo físico. Alimenta-se de comida, drogas, álcool e outros artifícios anestésicos.
Também, a compulsão pode ter causa na desfunção química do organismo; sendo incomum essa condição.
O guarda-roupas pode ser usado como metáfora ao entendimento de mensagens sublimadas, que sem que tenhamos ciência está presente, na mente, no físico, nas emoções e igualmente presente no espírito.
Tudo começou com o guarda-roupas. Através do anos acumulei roupas. Não eram muitas porém quase todas, sequer usava. Tinha a sensação da gordura, em meu corpo físico, como escudo e acolhimento.
Estavam lá penduradas as roupas, onde eu me via e me identificava. As mantinha guardadas, ciente de que seriam usadas quando o corpo coubesse naquele feitio.
Por anos usei o mesmo padrão de roupa, servindo para ir trabalhar como também para realizar qualquer outra atividade. Calça comprida, e não saia e vestido,  botas e não mais sandálias como gostava. Percebi que calças e botas tornavam a vida na cidade, prática. Estava preparada para situações de assédio, de violência e outros tipos de constrangimentos; pronta para vencer os padrões patriarcais presentes nas ruas, nos transportes públicos, nos bares, nas escolas, nas faculdades, nos quatro cantos da cidade.
A gordura em nada tem a ver com a comida. Ela tem a ver com a sensação de vazio; uma insatisfação que pede preenchimento para acobertar inquietações. Semelhante qualquer comportamento repetitivo, após determinado tempo a compulsão vira um vício. Independentemente do motivo que o gerou. O organismo não necessita de alimento mas a pessoa se preenche de comida, ou de bebida, ou de qualquer outra droga que satisfaça a falsa sensação de vazio.
Muito tempo passamos tentando entender o mecanismo que nos faz sentir pesados. Apesar das evidência, questões escondidas nas profundezas da mente e do corpo existem, de maneira não percebida, de forma inconsciente.
As roupas, no guarda roupas, dizem da pessoa que imaginamos ser.
Se prestar atenção em seu guarda roupas perceberá o qüão distante está, de quem imagina ser. Estou falando de presença de espírito e não de modismo.
Também não importam as peças guardadas no guarda roupas, se finas, caras e tampouco importa a quantidade delas. Interessa observar, se aquelas roupas penduradas, guardadas, correspondem à idéia de quem você imagina ser; quem você imagina.
Por que comemos além do que é saudável? Por que bebemos até embriagar? Por que não realizamos quem sonhamos ser? Quem é essa pessoa guardada no guarda roupas, e quem é essa mesma pessoa, uniformizada?
A gordura espiritual, transferida para o corpo físico, vem, para proteger as pancadas da vida. Assim como o excesso de álcool e as drogas. A pessoa se preenche de gordura, invés de se preencher de luz, ou seja, de autoconhecimento e saberes. Pois o processo do despertar da consciência obedece determinado rítmo, de aprendizados. E o rítmo dos aprendizados é muito mais lento, que o preenchimento de comida, bebida ou de qualquer outra ilusão.
O guarda roupas reúne vestimentas e acessórios dos vários personagens que criamos. Guarda, as roupas, de quem nos tornamos e guarda também as roupas, de quem sonhamos ser.
Ensaio sobre o guarda roupas.
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