Por Geraldo Varjabedian
Há uns vinte anos, um tolo de classe média, recém chegado de São Paulo, foi convidado a fazer um programa sobre terapias holísticas numa rádio comunitária, no bairro do Indaiá, em Bertioga.
Já chegou com tudo pronto e pensado, claro. E deu na telha do sujeito usar maravilhas instrumentais de Egberto Gismonti, Hermeto Pascoal, Andreas Vollenweider, nomes bacanudos da mpb e do jazz, entre outros, como temas, bases de vinhetas e, por que não, inseridos na programação.
Eu achava imprescindível que os ouvintes – maioria esmagadora de famílias de trabalhadores da construção civil, empregados na riviera e aposentados locais, -, reconhecessem a relevância dos músicos, sua maestria, criatividade e importância.
Muitas vezes, como o programa acontecia ao vivo, as pessoas vinham até a rádio para conversar. E eu perguntava: “E aí, tão gostando das músicas”? E os poucos que opinavam, fincavam um “bonitas” na beira do abismo de silêncio e mudavam de assunto.
E assim, o tolo que chegou cheio de bossa e formações e técnicas e conhecimento e recomendações e saberes e certificados e referências e pompa e circunstância e uma auto-importância cretina, teve que limpar os ouvidos, engolir o orgulho e escutar e tocar a música daqueles com quem pensava estar trocando.
O programa durou dois anos e repercutiu um bocado na cidade, graças a isto. Porque, se dependesse de minhas verdades de pedra e dos deuses do olimpo musical da classe mérdia de então, meus conteúdos seriam preteridos, por falta absoluta de contato humano com o universo daquelas pessoas.
Foi assim que nasceu o pretenso educador popular. Entendendo que, sem aprender o outro, ninguém ensina coisa alguma, além de verticalidades!