Baixada Santista Cidade São Vicente

I Marcha Metropolitana da Consciência Negra da Baixada Santista acontece dia 20/11

Acontecerá na próxima segunda-feira dia 20 de novembro em São Vicente a 1° Marcha da Consciência Negra da Baixada Santista, organizada de forma coletiva por diversos movimentos e organizações sociais e negras, a marcha está marcada para às 15h, concentração, na praça Heróis de 32, (Praia Gonzaguinha) e 16h seguirá até a Vila Cultural de São Vicente. Saiba mais sobre toda a articulação da marcha e da organização no blog de Tumbi Are Nagô de Oyô

Link do evento no facebook

Segue o texto manifesto da marcha:
“O tema da I Marcha Metropolitana da Consciência Negra da Baixada Santista é “Resistir, Sobreviver e Denunciar”. Conceitualmente, os três verbos trazem o racismo institucional e estrutural que predomina no imaginário coletivo,à luz da reflexão crítica, além de expor o modus operandi, de uma sociedade europeia, eurocêntrica e brancocêntrica. Denuncia uma conjuntura social,política e econômica na qual se encontra a população negra da região metropolitana da Baixada Santista, no Estado de São Paulo e em todo o Brasil, condição esta que é fruto de um projeto político de genocídio institucionalizado, em especial, das populações negra, pobre e da periferia brasileira que procuram resistir às desigualdades de acesso aos direitos mais fundamentais sobrevivendo, muitas vezes, à margem da sociedade do Estado Democrático de Direito.
Segundo o IBGE, em comparação com o Censo realizado em 2000, o percentual de pardos cresceu de 38,5% para 43,1% (82 milhões de pessoas) em 2010. A proporção de pretos também subiu de 6,2% para 7,6% (15 milhões) no mesmo período. Esse resultado também aponta que a população que se autodeclara branca caiu de 53,7% para 47,7% (91 milhões de brasileiros), ou seja, dados que cientificamente comprovam o que já sabemos desde 1500: somos a maioria da população brasileira. Dono da maior população negra do Brasil em números absolutos, o Estado de São Paulo possui aproximadamente 17 milhões de autodeclarados pretos e pardos (cerca de 34% da população paulista). Mesmo sendo o Estado mais rico e desenvolvido da Federação, nem por aqui a situação muda quando o assunto é efetivação da igualdade de oportunidades, defesa dos direitos étnicos individuais, coletivos e difusos e o combate à discriminação e às diversas formas de expressão da intolerância étnica.
A população negra paulista, em comparação com a população não-negra, possui os piores índices socioeconômicos, políticos e sociais comprovando que o abandono estatal é política de Estado, que o encarceramento em massa e o genocídio da população preta são medidas higienistas e que o acesso aos mais fundamentais direitos continua sendo um desafio que a branquitude não quer, e nem irá assumir. Mesmo sendo a maioria da população brasileira, paulista e da baixada santista (nas 9 cidades temos porcentagem de negros acima da porcentagem do Estado), vivemos em uma sociedade em que impera o mito da democracia racial, o qual aliado à ideologia do embranquecimento e ao racismo institucional, formam o tripé ideológico que lança essa maioria minorizada da sociedade aos campos da invisibilidade e do silenciamento. Vivemos em uma região onde as políticas de promoção da igualdade racial e de enfrentamento ao racismo estão em pleno retrocesso.Na mesma toada, aliás, da retirada de Estamos por nossa própria conta!!!! (Bantu Steve Biko)
Direitos que o Governo Temer vem protagonizando em nível federal via reformas que usurpam direitos historicamente conquistados e que acometem mais duramente a população negra.Uma região que só possui um município com a política de cotas instituída, que possui Conselhos de Promoção da Igualdade Racial e de Participação e Desenvolvimento da Comunidade Negra que, na maior parte do tempo, ficam em vacância, ou não são devidamente empossados, ou ainda que funcionam, porém sem o devido respaldo da municipalidade, não conseguindo sequer cumprir o seu papelno controle social das políticas. Com Coordenadorias de Igualdade Racial que, nem de longe, promovem igualdade ou enfrentam o racismo, sem uma nomeação que represente a luta da militância negra ou de nossas bandeiras históricas, fora os municípios onde elas não existem e quando existem não estão nomeadas.
Um panorama metropolitano em que a Lei 10.639/11.645 vem sendo descumprida institucionalmente pelas Secretarias da Educação municipais, vivendo os municípios de iniciativas isoladas de professorxs de/da luta ou de movimentos negros que, dialogando com as escolas, procuram dar suas contribuições. Uma região onde a violência das periferias sufoca, quando não mata, a juventude negra e pobre e coloca, cada vez mais, para longe dos centros urbanos, as casas de axé, que sofrem uma perseguição cada dia mais sistêmica e letal. São inúmeros os marcadores sociais da diferença que nos demonstram como estas desigualdades sociais são produtos das relações estabelecidas entre os indivíduos e que, quando analisadas enquanto relações raciais, explicitam uma forma de pensar em que o privilégio da branquitude se acentua a cada instante, desde 1500, no Estado Brasileiro, e que se aprimora mais e mais a cada tentativa nossa de promoção da igualdade, fazendo do Racismo o crime perfeito, como bem nos ensina o antropólogo Kabengele Munanga. Portanto, irmãos e irmãs, só o discurso não é suficiente, ir às ruas e bradar contra o racismo institucional, contra a intolerância religiosa, contra o genocídio da juventude negra e a violência nas periferias é o dever moral de todx cidadã(o) consciente de que não somos iguais perante a lei nesta sociedade hipócrita, racista, machista, homo/lesbo/transfóbica e anticandomblecista.
Por Zumbi, por Dandara, por Acotirene, por João Cândido, por Luiza Mahin, por Luiz Gama, por Esmeraldo Tarquínio, por Quintino de Lacerda, por Maria Patrícia, por Maria Liberata e por todo preto e pobre das hoje periferias, outrora quilombos, que lutaram, e ainda lutam, pela liberdade do povo africano e afro-brasileiro. Nossos passos vêm de longe, que permaneçamos vivos/as para honrar esse legado. Resistir, Sobreviver, Denunciar!!!! São Vicente, 20 de novembro de 2017″.
Fonte: Freqüência Caiçara
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