Colunistas Márcia Simões Lopes

Big Brother Brasil – espelho, espelho meu!

Por Marcia Simões Lopes.

 

É realmente uma perda, para quem não está assistindo o Big Brother Brasil, BBB, por pensar que é alienação e coisas afins. É sabido que existe preconceito contra esse programa e contra quem o assiste. O que demonstra, que a antiga e permanente sombra que acompanha nossa civilização feita de vitrines, está atuante.

 

Há aqueles que não gostam do programa. Em regra, as pessoas gostam de ouvir sobre as histórias que acontecem no BBB; porém, algumas não se manifestam, para não serem julgadas pelo outro que também não diz nada, para igualmente não ser julgado por outro.

 

Até mesmo as mídias sociais alternativas abordam temáticas surgidas a partir do BBB, como por exemplo, feminismo, racismo, machismo, segregação e outras questões envolvendo nossa civilização, tornando-se debates públicos nas redes sociais. Não considero necessário, imperdível, assistir o BBB. Apenas chamo a atenção ao preconceito em torno do programa e daqueles que assistem.

 

Nessa edição do BBB, tem mulheres que se apresentam como ativistas do movimento feminista. Não surpreendentemente – ao menos para mim – elas elegeram o macho alfa da casa, Pyong Lee, como mentor do jogo delas.

 

Interessa, ao suposto macho alfa tê-las como aliadas, já que elas são maioria na casa e votarão em homem até que todos estejam eliminados do programa e elas possam disputar o prêmio de 1,5 milhão, entre elas.

 

O surpreendente nessa história, está no inesperado surgimento de um segundo macho alfa, Felipe Prior, dentro da casa. Menos elaborado e menos lapidado que Pyong Lee, o segundo macho alfa tem visão e clareza do jogo e das pessoas do convívio. É intuitivo – qualidade também do macho alfa “oficial” – inteligente e sabe construir táticas e estratégias. Prior não se simpatiza com as atitudes das mulheres que, segundo ele, segregam os moradores da casa conforme o julgamento delas. Ele também não se simpatiza com o modelo de jogo de Pyong Lee, porque percebe que Lee manipula as mulheres, contra ele, Prior. Resumindo, Felipe Prior joga contra esse grupo de mulheres e contra Lee, por considerá-los superficiais e estranhos ao que ele supõe ser um comportamento justo e correto entre “brothers”.

 

Passado um tempo, Babu, que não sentia afinidades com o grupo das mulheres e de Lee, aliou-se a Prior. Desde então eles formaram uma dupla, desafiando o restante da casa.

 

Teve um acontecimento na casa, logo no início do programa, de comentários machistas envolvendo homens que inclusive já foram eliminados do programa. Mas Felipe Prior não compactuou com a fala dos amigos, embora seja julgado pelo grupo de mulheres, como réu. Por isso, Prior, que parece ser uma pessoa naturalmente em busca justiça, na vida, criou dentro do jogo um caminho de justiça, também. Caminhando em cima da verdade dele.

 

Embora negam, é nítida a admiração das mulheres à coragem, ousadia e ao autorespeito de Felipe Prior.

 

O macho alfa, Pyong Lee, não se incomoda com o insurgente Felipe Prior porque, apesar da admiração ainda que contida, ele é alvo das mulheres.

 

Recentemente Pyong Lee descobriu, que a suposta líder das mulheres, médica obstetra e feminista ativista, Marcela, escolheu um dos homens da casa – namorado dela – para estar com ela na final do programa. O namorado da ativista feminista é uma pessoa aparentemente desinteressante, comete muitas infrações contra as regras da casa causando punição aos demais “brothers” e mesmo assim ele é protegido pelo grupo de mulheres pelo simples fato de ser o namorado da líder feminista.

 

Após Pyon Lee perceber que outro macho, o namorado, ocupava seu território disputando a atenção da líder feminista ele reagiu, dando sinais de que não protegerá mais, com tanto esmero, o rapaz. Iniciando, a “fritadeira” do namorado da líder feminista às pessoas mais íntimas.

 

O patriarcado sempre está pelo poder. Por isso e para isso, inclusive, foi criado pelo homem. Nenhuma novidade.

 

Falta maturidade e coerência no feminismo proclamado pelas mulheres; nitidamente percebe-se, ausência de conhecimento e sabedoria; estando claro: falsos conceitos, falsas regras e falsas condutas. Também nenhuma novidade, pois estamos todas, aprendendo!

 

Na verdade, não tem novidade; o que há de interessante nesse cenário é a riqueza de espelhos, para quem quer ver refletida, as próprias sombras.

 

As mulheres elegeram um macho alfa para representá-las na execução do jogo. Isso poderia ser visto apenas como estratégia de jogo se não fosse um padrão de sombra, de comportamento, entre mulheres, presente até os dias de hoje em nossa sociedade. Não com a mesma força e impressão de outrora mas ainda muito presente no subconsciente da mulher. Um exemplo disso, são as muitas mulheres feministas, de caminhos xamanista, daimista e de tradições espiritualistas, ou não, que vêem o Papa como o benfeitor e a salvação à humanidade. Sendo essa instituição religiosa, historicamente, um dos alicerces do patriarcado.

 

A atitudes das mulheres do BBB não ocorre por conta de elas serem elitizadas ou pelo fato do próprio programa ser elitizado como alguns podem pensar e justificar… A representação, no programa, de gênero, raça e classe social é diversificada; lembrando que o ex deputado Jean Wyllys do PSOL levou o prêmio, em uma das edições do BBB.

 

O poder do macho alfa da casa, Pyong Lee, de seduzir as mulheres fazendo-as olhar para ele como o “protetor” delas é interessante de ser observado. É a partir desse poder criado pelo patriarcado, a indução do poder do homem sobre a mulher, de onde partem as disputas entre as mulheres. A velha referência do poderoso macho alfa, superior e único, que ao mesmo tempo que aprisiona a mulher tem o poder de conceder a ela, a liberdade. Era assim nos calabouços e é assim no BBB. Isso é memória e está na história espiritual das nossas antepassadas.

 

A submissão da mulher ao homem é uma ilusão que educou a mulher a acreditar que ela é frágil e incapaz de realizar a própria vida, sozinha. É dessa ilusão que parte a entrega, ao suposto cuidado, manifestado pelo namorado, marido, amigo, parceiro de trabalho mas que em verdade é um ato, de subordinação. Onde nós mulheres caímos e nos rendemos à figura do “pai” do “protetor”. Repetindo, por não aprendermos, a história, entregando nossa força e nosso poder ao “cuidador” da vez.

 

Claro que alguns dirão que isso tudo não tem a menor importância diante da miséria e das guerras no país e no mundo. Mas é justamente por isso tudo que o país e o mundo estão em vertigem. Por conta da cegueira humana e da preguiça espiritual que ronda a civilização.

 

Interessante observar o micro universo do comportamento e das relações humanas acontecendo nesse aparente laboratório que é o BBB, refletindo o macro universo da nossa civilização.

 

Uma oportunidade de estudo, para quem compreende a medicina do outro você, cultiva a auto observação e está disposto aos ensinamentos da vida!

 

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