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Cozinhas Solidárias: fazendo o que o governo não faz

Por Guilherme Boulos 

 

De tempos em tempos, especialmente em momentos eleitorais, os reacionários de plantão reativam o preconceito contra os movimentos sociais: “vagabundos”, “baderneiros”, “invasores” e todo aquele velho repertório.

 

Já mostramos o que o MTST foi capaz de fazer na moradia popular sem ter a caneta na mão. Mais de 15 mil pessoas conquistaram suas casas através da luta do movimento.

 

Há duas semanas tive o privilégio de entregar as chaves do mais recente conjunto, o Dandara, na zona leste de São Paulo. Mais 216 apartamentos, quase mil pessoas que agora têm um teto digno para viver. É o primeiro conjunto habitacional do Brasil com uma horta orgânica, garantindo segurança alimentar aos moradores. São muitas histórias…

 

Agora, no pior momento da pandemia em nosso país, e com o agravamento da miséria, o MTST resolveu fazer novamente aquilo que os governos não fazem: alimentar o povo.

 

O Brasil está voltando para o Mapa da Fome e pode chegar, no fim de 2021, a 20 milhões de pessoas sem segurança alimentar. Superamos 14 milhões de desempregados, a maior marca da série histórica medida pelo IBGE.

 

O governo suspendeu o auxílio emergencial em janeiro e agora retoma com um valor insuficiente e para menos gente. E o preço dos alimentos e do botijão de gás explodiu no país. Daí a verdadeira pandemia da fome, convivendo com a Covid. O povo está jogado à própria sorte.

 

O projeto das Cozinhas Solidárias é a resposta do movimento social a esta tragédia humanitária. O MTST já inaugurou duas cozinhas nas periferias de São Paulo (Brasilândia) e Maceió (Benedito Bentes) e vai completar 16 até o fim de abril, em 11 estados brasileiros.

 

São espaços abertos, que servem refeição gratuitamente todos os dias para milhares de pessoas. A melhor refutação prática de Milton Friedman: sim, existe almoço grátis. Ou melhor, sustentados pela solidariedade. As cozinhas não recebem um real de apoio público. São financiadas inteiramente por uma campanha de arrecadação solidária via plataforma na internet.

 

Cada cozinha serve centenas de pessoas na hora do almoço, seguindo protocolos sanitários, e fornecendo materiais de orientação para proteção ao coronavírus.

 

O projeto conta com o apoio de chefs como Paola Carosella e Bel Coelho. Mais uma vez o movimento social dá exemplo, num país sem rumo e com governos que tratam o sofrimento do povo como estatística. O trabalho de centenas de voluntários pelo país, arregaçando as mangas, nos dá – em tempos tão dramáticos – uma ponta de esperança de que o Brasil tem jeito.

 

 

Fonte: IREE – Instituto para Reforma das Relações entre Estado e Empresa

Os artigos de autoria dos colunistas não representam necessariamente a opinião do IREE.

 

Guilherme Boulos

É professor, diretor do Instituto Democratize e coordenador do MTST e da Frente Povo Sem Medo

 

 

 

 

 

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