Desavenças ocorrem entre historiadores sobre a questão primordial
Todos vivemos em cidades, viajamos para outras e jamais pensamos em uma questão primordial. Afinal, qual é a cidade mais antiga do Brasil? Como tudo o que é histórico, ocorrem algumas desavenças quanto a este dado.
Porém, conforme alguns historiadores e livros de história, o município de São Vicente, cidade litorânea de São Paulo, recebe esse tótulo. Ela foi fundada em 1532 por Martim Afonso de Sousa. Após São Vicente, foram fundadas Olinda em 1537, Santos em 1543, Salvador em 1549, São Paulo em 1554 e Rio de Janeiro em 1565.
Com o slogan ‘Celula Mater da Nacionalidade’, São Vicente hoje possui cerca de 353.040 habitantes (segundo IBGE de 2014), assim possuindo uma densidade demográfica de 2.375,59 habitantes por km². Sua fundação tem origem portuguesa e ocorreu no mesmo ano que as primeiras eleições da América onde foram escolhidos os primeiros oficiais da Câmara.
Todavia, há quem questione o pioneirismo de São Vicente. De acordo com historiadores e o Governo do Estado de São Paulo, fundada em 12 de agosto de 1531 por Martim Afonso de Souza, Cananeia é a primeira cidade do Brasil. A história desse município por onde passava a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas que dividia o mundo entre Portugal e Espanha, é recheada de muitas lendas de piratas, tesouros enterrados e batalhas.
Debate Histórico: Qual a primeira cidade do Brasil?
Segundo o historiador Márcio Braga, a Vila de São Vicente foi elevada a categoria de cidade em 1895, o mesmo ano de Cananéia, antes chamada de Vila de São João Baptista de Cananéa.
Como Portugal, no início da colonização do Brasil fundava Vilas, a mais antiga Vila é considerada popularmente como a primeira cidade.
Por esta razão, São Vicente, que foi o primeiro núcleo humano a ser reguralizado administrativamente por Portugal no Brasil como Vila em 22 de janeiro de 1532 por Martim Afonso de Souza, se intitula a primeira cidade.
Esse fato está registrado no único documento que relata a expedição que é o diário de navegação escrito por seu irmão Pero Lopes de Souza.
Mesmo tendo Martim Afonso passado em 1531 por Cananéia, que já era um núcleo de europeus deixados ali por várias expedições marítimas, por ser o limite do tratado de Tordesilhas, não foi por este reguralizada. A povoação de Cananéia foi elevada a Vila em 1578.
“Como historiador, acho extremamente sem sentido essa discussão. É como se os historiadores de cada uma das cidades históricas do litoral paulista tivessem uma peça de um quebra-cabeça, mas que se negam a emprestar para que seja montada a história real, pois todos acham que sua peça é a mais importante. Para mim a coisa é muito simples. A primeira povoação européia no Brasil é Cananéia. O primeiro núcleo admistrativo a ser fundado no Brasil como Vila, com a primeira igreja, a primeira Casa de Câmara e pelourinho foi São Vicente.” – destaca Márcio Braga.
O Registro Diário entrou em contato com a Prefeitura de Cananéia, que questionou a colocação de São Vicente. Segundo a Prefeitura, Cananéia foi fundada como Vila em 12 de Agosto de 1531, enquanto São Vicente recebeu o mesmo título em 22 de Janeiro 1532, quase seis meses depois. Cananéia foi descoberta por volta de 1502, como relata o marco na Praça de Lisboa. Alguns historiadores como o Eduardo Bueno, acreditam que essa ilha recebeu a visita de Americo Vespucio, em sua ida as Índias, na oportunidade que deixou degredados de Portugal nessa terra até então desconhecida. Na praia também foi deixado um marco de pedra português, que delimitava as terras pertencentes aos lusos.
Anos mais tarde, na época em que a coroa portuguesa resolveu colonizar suas terras, Martim Afonso aqui chegou e deparou-se com uma figura que era tido como rei pelos indígenas. O bacharel de Cananéia, este acredita-se ter vindo com a excursão de Americo Vespucio. Martim Afonso de Sousa, então fundou a Vila de Cananéia, em 12 de Agosto de 1531.
Mas afinal, há algum Registro histórico que possa comprovar que Cananéia foi a primeira do Brasil?
De acordo com a Prefeitura do município, além do marco de fundação que está na Praça Central da cidade. Há na praça do descobrimento de Lisboa, a inscrição de Cananéia com a data de 1502, mostrando a localidade como conhecida e usada pelos portugueses desde então. Além do marco de pedra que foi colocado na praia marcando o limite das terras lusas.
Caso as pessoas queiram se aprofundar na história de Cananéia e até mesmo vivencia-las, no Museu Municipal pode ser visto parte dessa história em nossa exposição.
Curiosidades: Segunda e terceira cidades fundadas no Brasil
2ª cidade mais antiga
A segunda cidade mais antiga do Brasil é São Sebastião, do Rio de Janeiro. A fundação da segunda cidade do Brasil foi uma necessidade de defesa da parte sul da América Lusitana. Os franceses instalaram-se no Rio de Janeiro, em 1555. Em 1565, chegou uma expedição, chefiada por Estácio de Sá, com a missão de expulsar os franceses e fundar uma cidade na área. Os franceses foram finalmente expulsos em 1567. O nome da Cidade foi uma homenagem ao Rei D. Sebastião, que ainda não governava por ser muito jovem.
Por abrigar um porto mais próximo das Minas Gerais, a capital do Estado do Brasil foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro, em 1763. Salvador continuou a ser a maior cidade do Brasil até o início do século 19. Salvador também continuou a ser a Capital Eclesiástica da América Lusitana (que possuía três estados no final do século 18), até 1891, e a Capital Jurídica de sua parte norte, até 1808.
Após a chegada da Família Real, em 1808, o Rio de Janeiro tornou-se o principal centro cultural e a maior cidade do Brasil, desbancando a Bahia. A partir de então, o Rio de Janeiro tornou-se uma das cidades mais importantes do mundo. No século 20, era a Cidade Maravilhosa.
3ª cidade mais antiga
A terceira cidade brasileira foi fundada durante a União Ibérica, em 1585, para combater piratas no atual território da Paraíba. Jaboatão (Novo Orbe Seráfico Brasilico) citou:
“E que fosse certamente a erecção da Paraîba em Cidade neste anno de 1584 para 85, se comprova melhor com o que achamos escrito da fundaçaõ do nosso Convento naquella Cidade; porque sendo esta no anno de 1589, se diz expressamente que foraõ os nossos fundar Convento na Cidade Filippéa, novamente erecta, e assim chamada em obsequio do Monarcha Filippe, que a ennobrecera com o titulo de Cidade.”
Uma expedição, liderada pelo português João Tavares, foi enviada a região. Tavares construiu o Forte do Cabedelo, na foz do Rio Paraíba. Em novembro do mesmo ano, o Ouvidor Geral da Bahia, Martim Leitão, levou várias famílias, que construíram casas e igrejas mais para cima do Rio. Era uma cidade, como registrado no mapa de Albernaz, de 1640, confirmado por Jaboatão. Foi chamada de Filipéia, em homenagem ao Rei de Portugal e Espanha. Em 1634, foi ocupada pelos holandeses. Após a expulsão dos invasores, em 1654, a Cidade foi rebatizada com o nome de Paraíba. Recebeu o nome de João Pessoa, em 1930.