Por Redação B.F.
O escritor e dramaturgo Roberto Massoni é professor aposentado e recentemente lançou um livro com peças de teatro de sua autoria chamado “A palavra na Ribalta”.
Artista conhecido com trabalho aclamado na região do litoral paulista, Massoni veio a publico esta semana para nos relatar um drama familiar vivido em relação a Saúde Pública do nosso adorável Brasil, que é uma vergonha.
A seguir leia o relato de Roberto Massoni sobre mais um descaso da saúde pública em nossa Região.
MARGARETE MASSONI: dois anos na luta pela saúde em SAÚDE PÚBLICA.
BRASILEIRA, divorciada, mãe de família, avó, 63 anos, aposentada por idade com um salário mínimo, trabalhou em diversos cargos e empresas por mais de 30 anos, começou a trabalhar com quinze anos, com bom conhecimento artístico-cultural, escreve poemas, esta mulher de nome MARGARETE MASSONI em dezembro de 2016 começou a perceber que sua barriga estava crescendo, e não era gravidez, principalmente porque não tinha mais ovário, e procurou o postinho de saúde pública e marcou uma consulta com o clínico geral, sem saber que aí começaria um duro calvário e de cruz pesada! O clínico ouviu, pediu exames, e encaminhou minha irmã para um gastroenterologista da rede municipal no CEMAS – Centro Médico de Especialidades. Premiada com a bipolaridade, conforme os acontecimentos se sucediam entrou em crise: ansiedade, desassossego, falta de sono, ou então muito sono, e caiu em depressão. A barriga como de uma grávida em vias de parir. Fizemos testes de barriga d’água, deu negativo (por nossa conta) fizemos uma ultrassonografia (por nossa conta), mas não conseguimos diagnóstico. Dias, semanas, meses, consultas, exames. Um belo dia chegou uma guia da saúde pública pra que ela fizesse uma ressonância magnética, quando estava saindo pra fazer o exame o telefone tocou: o aparelho do exame estava fora de serviço, avisariam uma nova data. Semanas depois a convocaram pra fazer o exame… À noite! Assim mesmo ela foi com meu irmão e minha sobrinha. Nesse meio tempo amigos ligados à saúde conseguiram consultas gratuitas com profissionais amigos, e amigos de amigos, até se saber que ela tinha sofrido uma TROMBOSE DA VEIA HORTA. Um entupimento da principal veia que leva sangue ao fígado, rins, intestinos, etc. O gastroenterologista agendado no CEMAS pelo postinho disse em sua consulta de cinco minutos que não tinha tratamento, que era crônico e saímos perplexos do consultório. O vascular, que acabou entrando antes do gastro, disse em nova consulta que teríamos que ouvir outro gastro. Que era caso de gastro. Mas, doutor, e a veia entupida? Isso não é vascular? Pequeno discurso médico em jargão profissional, e aí eu disse, sou professor de português, não estudei jargão de cada profissão, dá pra trocar em miúdos?!! Então começaram muitos exames de sangue, de urina, consultas, consultas, nós saíamos de casa seis da manhã, chegava pra consulta os médicos não vinham, nem avisavam, novos agendamentos – ela com a barriga imensa, o mental detonado – e fiz até amizade com o diretor técnico do Cemas, que dentro do que podia, ajudava. Outro gastro, hematologista, exames, exames, consultas, consultas, marca no postinho, vai pra tal laboratório, agora só pro final do mês! Exames, exames, consultas, consultas, então a gastrocirurgiã acatou o pedido do Vascular, para uma cirurgia de EXTRAÇÃO DO BAÇO. E encaminhou pra cirurgia no HOSPITAL IRMÃ DULCE, e bem! Se eram os doutores que diziam ser a cirurgia indicada do BAÇO, como contestar? Chegou o dia da consulta com o cirurgião, no Hospital da cidade. Antes desse dia, ansiedade, cigarro, café, café cigarro, insônia, depressão, euforia, no dia da consulta no Hospital ficamos seis horas esperando a vez da Margarete. Finalmente como um milagre, uma trombeta divina a voz do médico- o cirurgião a chamou. Em todos os exames e em todas as consultas eu estive junto, perto, atento e preocupado. Este médico cirurgião olhou os exames, depois disse, POR QUE OPERAR O BAÇO? O BAÇO NÃO TEM NADA, o que tem que fazer é desobstruir a veia porta. E esta cirurgia não fazemos aqui. Então eu muito calmamente soltei o verbo e falei que era um abuso, um absurdo, uma incompetência generalizada o que estava acontecendo. Ele disse, BOM, SE OS COLEGAS QUEREM QUE EU OPERE O BAÇO EU OPERO, MAS NÃO VAI RESOLVER NADA, além do mais o baço tem funções próprias e imprescindíveis. VOCÊS VOLTEM COM O VASCULAR A HEMATLOGISTA O GASTRO E ME TRAGAM DOCUMENTOS EXPLICANDO POR QUE TIRAR O BAÇO DESTA PACIENTE. Saímos em choque, perplexidade, impotência e dor – a dor que é a dor de um povo que precisa pra se tratar usar o sistema nacional de saúde. Voltamos, os médicos estavam divididos, o VASCULAR, que é diretor clínico do CEMAS sustentava como saída para diminuir a barriga a extração do baço, escreveu cartinha e encaminhou de novo para o cirurgião do Hospital. A hematologia dizia que por ela não tirava o baço. A gastro cirurgião que encaminhou pra cirurgia se aposentou. Voltamos ao Hospital e depois de umas quatro horas de espera, o médico soou a trombeta e ouvimos que era pra Margarete entrar. Lembrou do caso (?) leu as cartas dos colegas, EXAMINOU CUIDADOSAMENTE MINHA IRMÃ, coisa rara, e disse NÃO VOU FAZER ESTA EXTRAÇÃO DO BAÇO. Vou encaminhá-la para o HC para fazer a veia porta voltar a funcionar. (Antes de chegarmos ao cirurgião do Irmã Dulce, minha irmã teve que fazer toda uma bateria de exames pré-operatórios, que ficaram totalmente inúteis, exames, exames, levantar cedo, enfrentar filas, inverno, chuvas, buscar exames… ???). E saímos de lá mais pra lá do que pra cá. Logo no dia seguinte fui até a Secretaria Municipal de Saúde e dei entrada no CROS – sistema de saúde do Estado – para ter a sorte de conseguir uma vaga para cirurgia de veia porta no HOSPITAL DAS CLÍNICAS. Já passou 2017, estamos em setembro de 2018. Resolvi ir com minha irmã novamente na secretaria da saúde e descobri que por puro engano minha irmã não tinha sido colocada no sistema de espera de vagas do CROS. Chamei atendente, subchefe, chefe, falei tudo que tinha direito e que não tinha, e de lá atravessei um caminho estranho e escondido em que estava o escritório de ou ouvidoria do SUS. Fiz uma queixa que segue com este desabafo. Em setembro de 2018, hoje dia 18, depois de intervenções de vereador, amigos com alguma influência, pensamento positivo, trabalhos espirituais, novenas de Santo Expedito, estamos a espera de uma vaga na cirurgia no Hospital das Clínicas. Minha irmã em severo tratamento psiquiátrico particular, acompanhada por psicóloga – a família em compasso de espera – sem a menor expectativa de que breve receberemos uma guia com encaminhamento finalmente para o HOSPITAL DAS CLÍNICAS, referência nacional e internacional. Isto não é ficção: é vida real. E assim devem ser milhares no nosso país. Dinheiro público da saúde? Em exames, exames, exames e consultas, consultas, consultas que não chegam a lugar nenhum. Milhares de casos assim, computa aí no dinheiro público quanto fica esta conta! E o Estatuto do Idoso? E a contribuição ao INSSS de anos de trabalho? Um funcionalismo público entediado e cansado das condições de trabalho em postos de saúde, clínicas, consultórios. Um jogo de empurra empurra, um medo em tomar a decisão certa, nisso fico grato ao cirurgião que não tirou em vão o baço da minha irmã. Os médicos não trocam informações, as salas de espera estão sempre cheias, e o silêncio solicitado na placa da sala de espera é geral, amplo e irrestrito. Agradecemos ao empenho do vereador Dimas e seu gabinete. Aos conhecidos da prefeitura que não posso dar nome aos bois, por motivos óbvios. Aos profissionais da saúde que tiveram um comportamento mais humano e mais gentil, no transcorrer dos meses. Sim, muita, mas muita gente doente. Num país de norte a sul vilipendiado na sua estima e na sua esperança, a doença pega, mata e come! Isto por que sou instruído, sei falar de igual pra igual, mas quantos eu não vi nesta peregrinação humildes, semi-alfabetizados, sentindo-se culpado de usufruir de um direito??? Nosso município cresce aceleradamente, e os serviços essenciais não acompanham o crescimento! No discurso vazio e gasto as campanhas são eternamente as mesmas, SAÚDE, EDUCAÇÃO, TRABALHO E TRANSPORTE PARA TODOS. Será que é preciso tomar uma facada em plena campanha pra se ter um tratamento de ponta no país? Estamos aqui – a família – , cuidando da minha irmã, e esperando um milagre, que deveria ser um direito, mas a vida está valendo quanto? E uma doença, qualquer que seja, pede tratamento, de preferência com cura, porque a dor não espera, e o que se acena, nós já sabemos de velhos, não precisa dizer! Parabéns, Sistema Político do Brasil, Sistema Judiciário, Modelo econômico, Modelo governamental padrão federal, estadual, municipal. Isto é um desabafo – e vem levado em andor com indignação.
CARLOS ROBERTO MASSONI
Professor Aposentado por invalidez – CID: transtorno bipolar afetivo.
Por favor multiplique este desabafo que se faz pra voz também de quem não tem voz: as eleições estão aí, bombando….