Por Marcia Simões Lopes.
Eu nunca vi nem nunca soube, em toda a minha vida, da existência de manifestações coletivas de homens exigindo seus direitos, como seres humanos, para serem respeitados. Nunca vi homens em passeatas exigindo o fim da obrigatoriedade moral, imposta por esta sociedade, de estarem permanentemente disponíveis sexualmente como se fossem meros objetos. Nunca vi faixas, cartazes, manifestações organizadas por homens exigindo respeito à sensibilidade da qual são feitos. Nunca vi qualquer forma de luta coletiva por parte dos homens reivindicando o fim da exigência em se mostrarem fortes, quando estivessem a ponto de desabar, de chorar, de expor suas fraquezas. Nunca vi nem nunca soube de manifestações, protestos, manifestos, projeto de lei, carta aberta, documentos denunciando o dever de serem o chefe de família mesmo sentindo-se incapacitados para essa posição. Nunca vi manifestação coletiva de homens – iguais as que nós mulheres realizamos por nós mesmas – em defesa do direito de escolherem quem eles querem ser, como querem viver, exigindo o direito à desconstrução do papel criado pelo patriarcado, para que sejam os únicos provedores de uma sociedade.
Nunca vi!
Alguém conhece, algo parecido com isso?
Eu nunca vi!
Nunca vi manifestações reunindo homens, nas ruas, protestando contra o sistema, exigindo melhores condições para poder cuidar dos seus filhos, exigindo creche para seus filhos, exigindo equiparação salarial para as companheiras e amigas, exigindo o fim da violência sobre a mulher.Nunca vi passeata assim.
Talvez, porque estejam sentados em suas zonas de conforto, igual predador, aguardando a oportunidade do bote. Talvez porque apesar de doloroso terem seus sentimentos dilacerados pelo patriarcado – e que muitos lamentam! – sentem-se confortáveis no poder, nos papéis de caçadores, de lideranças, de fazedores das leis, os donos do mundo, onde, por conta dessas atribuições criadas pelo patriarcado sentem-se superiores às mulheres, sentem-se à vontade para caçar mulher, em vantagem para dominá-la. Talvez porque sentem-se confortáveis fazendo isso!
A partir do maravilhoso discurso da apresentadora de TV Oprah Winfrey na entrega do 75º prêmio Globo de Ouro realizado no início de 2018, denunciando crimes de assédio sexual e outras violências praticadas contra mulheres, cometidos por atores e produtores de Hollywood e, a partir da consequente divulgação de carta-manifesto divulgado pela atriz francesa Catherine Deneuve contestando as colegas americanas, chamando-as – equivocadamente – de puritanas, muitos homens, oportunisticamente, saíram da aconchegante zona de conforto de onde se sentem protegidos, ávidos por “dialogar” sobre feminismo, assédio, machismo, adotando, a idéia da atriz francesa em considerar exagero as denúncias de assédio sexual e moral, sugerindo que nem sempre é assédio e que pode ser uma “cantada”, dizendo, se não seria violência e/ou autoritarismo a mulher querer decidir sobre ela mesma a respeito das próprias questões, sozinhas e blá blá blá …
Homens sentindo-se embrutecidos por um patriarcado por eles próprios criados e do qual somente eles usufruem se dizendo, por igualdade. Parecem pedir a nós, mulheres, para diminuirmos o alcance da nossa visão, de forma que assim eles não se sintam, distantes!
Pois então, que venham ao nosso encontro. Estamos há tempos falando. E tudo o que precisam fazer, é: ouvir a nossa fala!
Assédio sexual é poder. Não é coisa de tarado, não! É a ação da mente, carregada de instruções e entendimentos sobre o direito do homem decidir e de se apoderar, sobre o corpo da mulher.
Homens enfurecidos, com a fala da mulher, enfurecidos, com o fato da mulher ocupar seu lugar na história e a partir da própria fala fazer girar o mundo; enfurecidos, porque na fala da mulher está dito que quem decide sobre as questões do feminino, somos nós, mulheres. Enfurecidos, e, mais um passo pode custar-nos uma fogueira!
Avançamos!