“os lugares mais sombrios do Inferno estão reservados aqueles que se mantiveram neutros em tempos de crise moral. “Nós precisamos nos posicionar e lutar junto com os povos nativos. Nosso Luto Vem Do Verbo. Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito na Baixada Santista.
A Frente de Evangélicos da Baixa Santista, em São Paulo, publicou uma nota de repúdio contra a decisão do governo federal pelo afastamento da FUNAI do coordenador regional do litoral sudeste, Cristiano Hutter, conhecido e respeitado indigenista.
Leia a íntegra da Nota:
NOTA DE REPÚDIO AO DESMONTE DA FUNAI
Nós, da Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito na Baixada Santista, manifestamos nosso apoio aos indígenas Guarani e Tupi Guarani de São Paulo e Rio de Janeiro, que ocupam há mais de uma semana a sede da FUNAI em Itanhém em protesto às últimas medidas do governo federal, que atingem gravemente essa população.
O governo federal, em uma decisão unilateral, resolveu exonerar o chefe da Coordenação Regional Litoral Sudeste, Cristiano Hutter, um reconhecido e experiente indigenista que atua na região há mais de 20 anos, tendo conquistado a confiança de cerca de 60 aldeias da região, através de seu trabalho que vinha promovendo desenvolvimento e possibilitando inclusive um próspero ciclo de produção de alimentos e geração de renda para comunidades indígenas da região.
A decisão da exoneração e a imediata suspensão do atendimento à população indígena, cujas terras ainda estão em processo de homologação, causa situação de grave negligência do Estado e violência institucional. Essa medida atingirá cerca de 700 terras indígenas em todo país, ferindo a Constituição Federal e as diretrizes de atuação da própria FUNAI.
Cerca de 250 indígenas ocupam há uma semana a sede da FUNAI, em Itanhaém, no litoral de São Paulo, em função destas decisões, exigindo o retorno do coordenador Cristiano Hutter e o cumprimento da Constituição Federal.
A história e a Bíblia nos fazem refletir sobre o que está acontecendo. Na carta do “descobrimento” podemos ler: “Dali avistamos homens que andavam pela praia, obra de sete ou oito”. Esse relato da terra recém descoberta é considerado o primeiro documento da história de nossa nação e nele o escritor Pero Vaz de Caminha mostra uma preocupação para com esse povo, que já habitava a terra. A preocupação de levar “a mensagem da cruz para esse povo que não tem Deus”, tinha como objetivo os povos indígenas e lhes retirava a humanidade, dada por Deus, que fez todos a sua imagem e semelhança (GN 1.26). Pelo meio da força os colonizadores tomam a terra e transformam muitos dos povos nativos em escravos.
A Companhia de Jesus, também conhecida como jesuítas, usando a cultura cristã, veio com a missão de doutrinar e pacificar os nativos. Diferente da colonização espanhola e inglesa, os nativos não foram exterminados, mas foram submetidos a essa opressão cultural e violência de dominação.
Entre os jesuítas com maior expressão, a história e a literatura citam o Padre José de Anchieta, o primeiro a escrever uma Gramática da língua tupi, o que foi de grande ajuda para a comunicação com os povos da terra. Também foi o responsável pelo armistício de Iperoig que selou a paz entre os portugueses e os Tupinambás. Esse acordo foi feito em Itanhaém!
Isso mesmo, um armistício, um acordo de paz…
Então, resta evidente ao longo de nossa história que há uma guerra dos colonizadores contra os povos nativos. Guerra explícita, e também a guerra implícita nas demais formas de aculturação e desvalorização dos povos indígenas. Essa guerra ocorre até os dias atuais, como vemos expresso na decisão do atual governo federal, e em tantos outros momentos da história brasileira. A população indígena brasileira era de aproximadamente 40 milhões e foi dizimada para menos de 10% desse número. E ainda vem sendo massacrada, assassinada, expulsa de suas terras até os dias atuais.
E hoje, em 2019, na Cidade de Itanhaém ao invés de um armistício os povos nativos que vivem no litoral Paulista estão reunidos para denunciar a tentativa de massacre do seu povo e de sua cultura como pudemos ver no início do texto.
E nós a igreja de Cristo o que estamos fazendo? Muitas de nossas congregações estão preparando festas e atividades para comemorar o natal e por isso não têm tempo para olhar para os povos nativos e as injustiças cometidas contra nossos irmãos.
Não podemos esquecer da mensagem que Deus nos passou por intermédio de Isaías: “Para que me oferecem tantos sacrifícios? ” (Is. 1.11), pergunta o Senhor. Para mim, chega de holocaustos de carneiros e da gordura de novilhos gordos; não tenho nenhum prazer no sangue de novilhos, de cordeiros e de bodes!” e também disse no capítulo 1 versiculo14;” Suas festas da lua nova e suas festas fixas, eu as odeio. Tornaram-se um fardo para mim; não as suporto mais!” e continuou ainda no capítulo 1 versículo 23 “Seus líderes são rebeldes, amigos de ladrões; todos eles amam o suborno e andam atrás de presentes. Eles não defendem os direitos do órfão, e não tomam conhecimento da causa da viúva.”. Se nos voltarmos para Deus, é inevitável a consciência de que Ele está do lado dos que são e foram oprimidos pelos poderosos deste mundo. Nos cabe tomarmos posição.
Os povos originários têm o direito à terra e a vida digna. A igreja não pode ficar indiferente ao que está acontecendo. O grande escritor Danti Aliguieri, em “A Divina Comédia ” no primeiro livro intitulado de ‘Inferno’ escreveu: “os lugares mais sombrios do Inferno estão reservados aqueles que se mantiveram neutros em tempos de crise moral. “Nós precisamos nos posicionar e lutar junto com os povos nativos.
Nosso Luto Vem Do Verbo.
Frente de Evangélicos pelo Estado de Direito na Baixada Santista.