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“Mataram um guardião da floresta, mas a luta continua”, avisa guardiã Guajajara

Paulo Paulino foi assassinado na última sexta-feira (1º); indígenas afirmam que madeireiros armaram emboscada

Catarina Barbosa

Brasil de Fato | Belém (PA)

Paulino morava na Terra Indígena Arariboia, território ameaçado por uma série de ações ilegais, sobretudo, a extração madeireira - Créditos: Patrick Raynaud/APIB
Paulino morava na Terra Indígena Arariboia, território ameaçado por uma série de ações ilegais, sobretudo, a extração madeireira / Patrick Raynaud/APIB

Na última sexta-feira (1º), foi morto no Brasil mais defensor do meio ambiente e da floresta amazônica. O indígena Paulo Paulino Guajajara integrava o grupo de agentes florestais indígenas “Guardiões da Floresta”. Conhecido por sua luta, o líder foi assassinado durante uma emboscada por madeireiros interessados em explorar ilegalmente terras indígenas no estado do Maranhão.

Apesar do crime, os indígenas do grupo de guerreiros e guerreiras da floresta afirmam que a luta continua.

“Estou muito revoltada com a morte do Paulinho. Então, eu falo isso em nome dos guardiões, nós sabemos que não é fácil defender o nosso território, que tem vários madeireiros que querem acabar com o que é nosso, mas sempre quando a gente fala, a gente está firme e forte para defender o nosso território. Os guardiões e guerreiras da floresta jamais vão abaixar a cabeça. Isso que aconteceu com Paulinho vai ficar na história e cada vez mais vem fortalecer o trabalho dos guardiões”, afirma a guardiã da floresta Cicera Guajajara.

Paulino morava na Terra Indígena Arariboia, território ameaçado por uma série de ações ilegais, sobretudo, a extração madeireira. Segundo dados do Instituto Socioambiental (ISA), de 2010, a TI conta com 5.317 indígenas que falam duas línguas: Tenetehara e Guajá.

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Para Cicera Guajajara, que pertence a mesma etnia de Paulo Paulino, mas mora na aldeia Maçaranduba, na TI Caru – próxima do local onde o indígena foi assassinado – não há dúvida sobre quem matou Paulino. Segundo ela, os madeireiros representam uma ameaça constante para os indígenas.

“Quem fez isso com ele foram os madeireiros. A gente sabe que os madeireiros estão aí querendo acabar com o que é nosso. Enquanto existir guardiões, nós sempre vamos preservar o que é nosso, a nossa natureza”, afirma.

O assassinato de Paulinho segue a mesma linha de todos os assassinatos ligados ao uso da terra. Ele lutava contra as ações ilegais e relatou diversas vezes que sofria ameaças, mas as denúncias não foram suficiente para protegê-lo.

“Paulinho vinha sofrendo ameaças e sempre falava para as autoridades. Ninguém nunca tomou providência. O homem branco hoje quer acabar com que o indígena tem. As matas hoje se ainda existem é só na terras indígenas. Se hoje ainda temos floresta é porque preservamos a nossa natureza e pensamos no futuro do nossos filhos”, argumenta.

Atualmente oito terras indígenas são protegidas pelos guardiões da floresta no estado do Maranhão. Na TI Caru, localizada no município maranhense de Bom Jardim, a Cicera Guajajara relata que durante a vigilância realizada para proteger o território, já foram encontrados até traficantes.

“A gente chega, conversa com eles, pede para sair de dentro do nosso território e, se eles estiverem com arma ou pertences que ficam com eles dentro da mata, a gente toma e pede para eles saírem. A gente nunca agrediu ninguém, sempre no diálogo com os karaiw [homens brancos] quando eles estão dentro da nossa reserva. O trabalho dos guardiões da minha aldeia é dessa maneira”, explica.

Cicera revela que foi Paulo Paulino que lhes ensinou como atuar na defesa da terra indígena. Para ela, o parente é motivo de orgulho por defender tudo o que foi deixado por seus ancestrais da ganância do homem branco e das ameaças promovidas pelo governo de Jair Bolsonaro (PSL).

“Ele foi um menino lutador, menino guerreiro e que nunca se escondeu. Sempre botou a cara à tapa para defender o território. A gente sabe da história deles que não é diferente da nossa história. Quando a gente formou o grupo de guardiões aqui na Terra Indígena Caru, fomos buscar experiência com eles na Terra indígena Araribóia. Eu sei que ainda vai existir muita morte. Nós sabemos que esse governo nunca deu a mínima para a gente, só quer acabar com os nossos direitos e está aí agora parente morrendo, madeireiros acabando com as nossas lideranças”, conclui Cicera Guajajara.

Edição: Rodrigo Chagas

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