Ecologia urgente

Ministra erra ao dizer que agrotóxico responsável por morte de abelhas no RS não tem registro no Brasil

Durante audiência pública na Câmara, Tereza Cristina contestou estudos sobre intoxicação por pesticidas e negou que o Sulfoxaflor, causador da morte de meio bilhão de abelhas, tenha sido registrado no Brasil; fabricado pela Dow AgroSciences, produto foi liberado em janeiro

Por Bruno Stankevicius Bassi, de Brasília.

Recebida com entusiasmo por representantes da bancada ruralista, a ministra Tereza Cristina participou hoje à tarde da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara para prestar informações sobre a liberação recorde de agrotóxicos pelo Ministério da Agricultura que, nos primeiros noventa dias de 2019, concedeu o registro para 121 novos produtos.

A ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) citou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para argumentar que não existe liberação geral: “A Anvisa que tinha mais de 1.500 produtos na sua fila de registros e modificou sua maneira de olhar esses produtos. Quem dá a palavra final é a Anvisa”.

Contrariando fala da ministra, Sulfoxaflor foi liberado no Brasil em janeiro. (Foto: Divulgação)

Confrontada sobre o papel dos agrotóxicos na morte de meio bilhão de abelhas no Rio Grande do Sul, Tereza Cristina foi direta:

– O problema das abelhas é que foi usado um produto chamado Sulfoxaflor. Esse produto não está registrado no Brasil. Esse é o grande problema dessa fila enorme. Esse produto muito provavelmente entrou de maneira ilegal, está sendo usado de maneira errônea e causou a morte das abelhas.

Esse inseticida foi liberado em janeiro, por meio do Ato nº 1 do Departamento de Fiscalização de Insumos Agrícolas, após ter sido aprovado nos últimos dias do governo de Michel Temer.

Produzido pela Dow AgroSciences, o Sulfoxaflor é classificado pela Anvisa como “medianamente tóxico”, mas fora do Brasil é alvo de polêmica. Em agosto, pesquisadores da Universidade de Londres demonstraram que, sob certas condições, o inseticida tem um impacto negativo sobre a produção reprodutiva de colônias de abelhas, reduzindo em 54% o tamanho das colmeias.

Em 2015, o produto teve seu registro cancelado nos Estados Unidos após uma decisão da Corte de Apelações de São Francisco indicar que a Agência de Proteção Ambiental [EPA, na sigla em inglês]falhou em considerar os impactos do Sulfoxaflor sobre insetos polinizadores. Um ano depois, a EPA voltou a conceder o registro, mas com abrangência limitada.

Próxima do presidente Donald Trump, a Dow AgroSciences tem emplacado alguns de seus principais executivos em cargos-chave no Departamento de Agricultura e na EPA, responsáveis por gerir o trâmite sobre agrotóxicos nos Estados Unidos.

MINISTRA CONTESTA ESTUDOS SOBRE CONTAMINAÇÃO

Durante a sessão de perguntas, a ministra da Agricultura demonstrou ceticismo em relação ao estudo divulgado pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) que constatou a contaminação por agrotóxicos na Bacia do Juruena. Segundo os pesquisadores, foram identificados resíduos de produtos altamente tóxicos – incluindo os herbicidas atrazina e metolacloro, considerados cancerígenos – na água da chuva e em poços artesianos de escolas rurais e urbanas nos municípios de Campo Novo do Parecis, Sapezal e Campos de Júlio.

Segundo Tereza Cristina, os níveis detectados estariam “aquém do que é exclusivamente de defensivos agrícolas”. “Nós temos aí produtos domésticos e urbanos que contaminam a água em muitos desses municípios”, afirmou. Ela também contestou a informação, apresentada pelo deputado Alexandre Padilha (PT-SP), referente à evidência de contaminação de leite materno por produtos organoclorados.

Em sua explicação, a ministra comparou o caso brasileiro ao Japão. Segundo ela, os japoneses possuem uma expectativa de vida elevada, mesmo o país sendo um dos líderes no consumo de agrotóxicos. Na mesma medida, argumentou, “a expectativa de vida do brasileiro só tem aumentado”.

Tereza Cristina aproveitou a audiência para defender o glifosato, agrotóxico mais usado no Brasil que teve o registro revalidado pela Anvisa em fevereiro, sob protestos de movimentos ligados à saúde pública: “Não existe ainda um produto que substitua o glifosato”.

E demonstrou preocupação com o mercado: “Nós temos que mudar a legislação para que os produtos de baixa toxicidade tenham seu registro facilitado e possam chegar mais rápido ao mercado”.

O site da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), até janeiro presidida por Tereza Cristina, repercutiu a audiência dizendo que a ministra saiu vitoriosa: “A pior praga é a desinformação“.

Foto principal: Mídia Ninja

Fonte: deolhonosruralistas.com.br

 

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