Por Marcus Vinicius Pimentel, colaborador do BdF:
O serviço público vem sendo alvo de ataques ao longo de um tempo maior do que se pode imaginar. A total desvalorização do servidor, terceirizações, mudanças na forma de gerir os órgãos públicos, inserção de modelos administrativos externos e oriundos do modelo privado de gestão, a interferência da política partidária nas estruturas de comando e muitas outras situações.
Mesmo com esse tempo que os citados ataques vem acontecendo, citamos o ano de 1995, onde a reforma do Estado promovida pelo governo FHC, agravou ainda mais a situação de todo o funcionalismo público no pais.
É enorme o esforço para que se prove o contrário do estereótipo que carrega o servidor como um trabalhador acomodado, sem ambição, intelectualmente atrasado, sem a preocupação com resultados e principalmente conhecido por ganhar muito e trabalhar pouco. Poucas pessoas sabem mas, por exemplo: servidores municipais tem uma média salarial de R$ 2.900 mensais. Em um país onde a inflação e a alta constante de preços é um problema, podemos analisar que é um salário relativamente baixo. Mas, segundo um certo ministro que eu não citarei o nome pois meus pais sempre me disseram que palavras de baixo calão transformam as pessoas em monstros, somos “parasitas” da economia pública. Parasitas estes que ganham menos de três salários mínimos por mês…
E como estamos em pandemia, a mais nova PEC aprovada em regime de urgência em função do retorno do auxílio emergencial, congela os aumentos salariais do setor público por dois anos. E após esse prazo, o aumento é renegociado. Já não se aumentam salários desde o ano passado. Ou seja…
Vamos fazer um pequeno cálculo: a expectativa do crescimento da inflação para o ano de 2021 era de 3,78% e subiu para 3.98% (dados do IPCA). Para o próximo ano, a estimativa é de 3.75% (meta do Banco Central). Se com esses dados, os preços do consumo para garantir a reprodução da vida de todo o servidor público (comer, beber, se vestir, ter uma moradia e algum lazer) aumentarem a essa progressão, uma compra de supermercado que custa hoje, em média, R$ 600,00, vai estar custando R$ 1.075,59. No caso de que os salários ficarem sem reajuste por quinze anos. Lembre-se da média salarial de R$ 2.900,00 mensais.
De certo, um exemplo simples para imaginarmos a proporção do impacto que esta decisão tomada sem nossa influência terá em nosso poder de sobrevivência.
Serão quinze longos anos de espera… O total do PIB gasto com salários de servidores corresponde a 13,7%, segundo o mesmo ministro que não será nomeado.
Temos um ponto de análise: se a média salarial de um servidor municipal é de R$ 2.900,00 mensais, como ainda somos chamados de “A parte mais cara do orçamento”? Eu realmente gostaria de entender…
Porém, seguimos desgastados. Um movimento sindical em total desacordo com as classes trabalhadoras, o custo de vida cada vez mais alto, assédio por parte das chefias, pressão política da gestão pública na forma de cargos comissionados e o poder legislativo vendido e alinhado com interesses eleitoreiros. Que buscam o apoio da massa desesperada por algum conforto.
Só temos a nós mesmos, infelizmente. O colega professor, o servente, o agente administrativo, o trabalhador em geral a cargo do serviço público.
Temos que partir deste pressuposto de que a única saída a toda essa tempestade que nos aguarda é a união da classe trabalhadora. União essa que nenhum gestor, chefe, encarregado ou diretor quer. Eles querem que permanecemos sozinhos. Elevam nossa auto estima quando dizem “ótimo trabalho”, ou “esse é o peão que eu gosto”. Fazem com que aceitamos que nossa condição é esta e que ela não irá mudar. Pois eles são o governo e nós somos apenas números.
Pois bem, que sejamos números. Mas não sejamos um, sejamos milhares. Sejamos todos os números que eles dizem que somos. Um número faz pouca diferença mas, todos… Todos são tudo o que eles não querem. E na matemática que nos divide por sermos apenas um e nos multiplica por sermos todos, façamos que os poucos que sobrarem, sejam somente algumas “meias” dúzia.