Uma visão para o desenvolvimento econômico de nossa região.
Seria ótimo iniciar este artigo tendo dados concretos sobre os índices de migração estudantil da Baixada Santista. O problema é que tais dados não existem e, se existem, não são encontrados com facilidade de acesso ao público. No entanto ainda nos é válido observar alguns dados da Agência Metropolitana da Baixada Santista (AGEM) que sinalizam sobre a questão da educação nas 9 cidades da região.
Sabemos que em 2015 atingimos 1.750.000 habitantes na Baixada, tendo 23,84% (417.019) desta população composta de jovens entre 15 e 29 anos. Alguns destes jovens naturalmente concluem o Ensino Médio, enquanto a maioria se encontra em idade para ingresso na universidade, no entanto a realidade está muito distante desta perspectiva.
Mesmo criando um cenário otimista que considere todos universitários com faixa etária até 29 anos, a quantidade de matrículas em cursos de nível superior na região não atinge nem mesmo 3% de toda população. Comparando somente com jovens, não representa mais que 12% dos 417.019 que habitam na região.
Isto não só significa que estamos deixando de dar formação a nossa juventude, mas que para além de uma migração e de um desejo de sair da região para demais universidades ao redor do estado ou mesmo do país, estamos criando mão-de-obra barata e sem qualificação.
Reforçamos a tese da falta de qualificação profissional quando comparamos os índices de trabalho formal da região com a faixa etária e com o grau de formação. Existem 400.653 trabalhadores formais segundo a AGEM, no entanto são mais trabalhadores formais ao nível de Ensino Fundamental (18,45%) do que de Ensino Superior (17,87%), por exemplo. O maior índice fica para trabalhadores com Ensino Médio completo (54,01%), ainda restando uma parcela menor para aqueles que não concluíram o Ensino Fundamental (9,66%).
Os dados nos revelam que mais da metade dos trabalhadores formais encontram uma barreira após concluir o ensino médio. Talvez por falta de recurso financeiro para bancar uma universidade privada, ou de tempo por ter de trabalhar e ajudar nas despesas da casa. O ponto é que precisamos compreender que uma das principais razões de não se concluir os estudos, atingindo um nível superior, vem muito da falta de perspectiva e de informação de programas ou de meios de ingresso.
Nos cabe recordar que temos o mais movimentado porto da América Latina localizado na cidade de Santos, ao lado de uma das cidades que mais cresce no Brasil que é Praia Grande e de um enorme parque industrial em Cubatão que alimenta a economia do estado de São Paulo. No entanto nossa região ainda não conta com sua própria universidade pública, como assim é em Campinas (UNICAMP), São Carlos (UFSCar) ou ABC Paulista (UFABC), por exemplo.
Temos na região um campus da UNIFESP, mas que ainda não é o suficiente para a demanda diversa dos estudantes da região. Assim como o campus da UNESP em São Vicente, também muito limitado em sua gama de cursos oferecidos. Sem contar com uma extensão da USP que atende apenas 50 vagas de graduação em um espaço sem estrutura ideal.
Tendo tudo isto em vista, talvez esteja explicado o êxodo de nossa juventude para universidades fora da Baixada. Nos resta o questionamento sobre quantos mais jovens perderemos pela falta de uma universidade que contemple nossas necessidades.
Ter uma Universidade Federal da Baixada Santista supera qualquer comodidade de ter simplesmente algo próximo de casa e atinge uma questão muito maior de valorização de nossa juventude e da qualidade da profissionalização da mão-de-obra de nossa região. É forçar a barreira que surge aos jovens da região após a conclusão do Ensino Médio através de uma perspectiva de melhoria não só de suas condições individuais, mas do avanço de sua região.
Hoje, um dos principais inimigos do projeto de expansão de universidades públicas na Baixada Santista é o lobby de grandes universidades que temem perder seus alunos da rede privada. Nos cabe investigar a estranha relação de soberania das universidades privadas em Santos para então avançar na pauta de melhoria da qualidade e da expansão do ensino.
Não existem argumentos que descaracterizem a necessidade de tal investimento, a não ser a falta de vontade do poder público em suas mais diversas instâncias, mas quanto a isto nos cabe avançar a discussão de forma estratégica para que os representantes eleitos da região finalmente se organizem e para que a “UFBS” saia do papel avançando nossa economia, formação e qualificação de mão-de-obra.