Ecologia urgente

Turismo eleitoral, partidos fakes e compra de votos ameaçam a democracia em Ilha Comprida

Ilha Com­prida, uma pe­quena ci­dade li­to­rânea no es­tado de São Paulo, tem se tor­nado o centro de aten­ções de­vido a prá­ticas elei­to­rais du­vi­dosas que co­locam em xeque a in­te­gri­dade de­mo­crá­tica local. A ci­dade, que se­gundo o censo de 2022 do IBGE possui 13.436 ha­bi­tantes, en­frenta um ce­nário elei­toral no mí­nimo pe­cu­liar: o Tri­bunal Re­gi­onal Elei­toral de São Paulo (TRE-SP) re­gistra 13.538 tí­tulos elei­to­rais na ci­dade, su­pe­rando o nú­mero de mo­ra­dores.Du­rante as elei­ções mu­ni­ci­pais, Ilha Com­prida tes­te­munha um fenô­meno co­nhe­cido como “tu­rismo elei­toral”. Di­versos re­latos in­dicam a che­gada de elei­tores que não re­sidem na ci­dade, com ônibus fre­tados vindo de re­giões dis­tantes como o in­te­rior de São Paulo, Pa­raná e Santa Ca­ta­rina. Este mo­vi­mento le­vanta sé­rias sus­peitas sobre a le­gi­ti­mi­dade do pro­cesso elei­toral, já que muitos desses elei­tores podem estar vo­tando ile­gal­mente para fa­vo­recer de­ter­mi­nados can­di­datos.Há cabos elei­to­rais que só apa­recem na ci­dade de quatro em quatro anos. Um deles é fa­zen­deiro em Santa Ca­ta­rina e Goiás, mas a po­pu­lação des­confia que ele é la­ranja de algum po­de­roso da ci­dade e pode estar fa­zendo parte de um grande es­quema de cor­rupção em Ilha Com­prida. A ci­dade é ad­mi­nis­trada pelo mesmo grupo po­lí­tico há 32 anos, que finge uma ri­va­li­dade para en­ganar o elei­to­rado.A prá­tica de compra de votos é outra pre­o­cu­pação cons­tante. In­for­ma­ções lo­cais su­gerem que a troca de be­ne­fí­cios por votos é uma tá­tica comum, exa­cer­bando a des­con­fi­ança na trans­pa­rência das elei­ções. Além disso, cir­culam na ci­dade ru­mores de que um ex-pre­feito exerce um con­trole sig­ni­fi­ca­tivo sobre 12 par­tidos po­lí­ticos, con­so­li­dando um poder que muitos con­si­deram ex­ces­sivo e an­ti­de­mo­crá­tico. Esse con­texto jus­ti­fica a in­sis­tência de par­tidos da di­reita em ter voto im­presso, que per­mi­tirá ve­ri­ficar em quem cada eleitor votou. As urnas ele­trô­nicas ga­rantem o si­gilo ab­so­luto e as­se­gura que a cer­teza de voto de um de­ter­mi­nado eleitor só o pró­prio terá.Es­pe­ci­a­listas alertam que tais prá­ticas minam a con­fi­ança pú­blica nas ins­ti­tui­ções de­mo­crá­ticas e podem per­pe­tuar ci­clos de cor­rupção e má gestão. Para os mo­ra­dores de Ilha Com­prida, essas elei­ções se tor­naram um jogo de in­te­resses, onde a voz ge­nuína da po­pu­lação é su­fo­cada por ma­ni­pu­la­ções ex­ternas e in­ternas.Em res­posta a essas de­nún­cias, or­ga­ni­za­ções de fis­ca­li­zação elei­toral e di­reitos civis têm in­ten­si­fi­cado es­forços para mo­ni­torar e de­nun­ciar ir­re­gu­la­ri­dades. A pre­sença de ob­ser­va­dores in­de­pen­dentes e a adoção de tec­no­lo­gias de ve­ri­fi­cação são al­gumas das me­didas su­ge­ridas para ga­rantir a li­sura do pro­cesso elei­toral. Im­por­tante que essas or­ga­ni­za­ções fi­quem atentas nas elei­ções mu­ni­ci­pais em Ilha Com­prida, acom­pa­nhando de perto tudo que rola desde a pré-cam­panha. Di­versos grupos d8e What­sApp, Fa­ce­book e Te­le­gram já estão com cabos elei­to­rais e pré-can­di­datos fa­zendo cam­panha elei­toral desde abril.A vi­o­lência verbal e ame­aças de agressão contra a in­te­gri­dade fí­sica e até a vida de pes­soas são cons­tantes nesses grupos nas redes so­ciais. Num pas­sado pró­ximo, houve casos de as­sas­si­natos mo­ti­vados por de­sa­venças na po­lí­tica.En­quanto a ci­dade se pre­para para as pró­ximas elei­ções, a es­pe­rança de muitos mo­ra­dores é que a ver­dade pre­va­leça e que as prá­ticas ile­gais sejam fi­nal­mente er­ra­di­cadas. So­mente assim, acre­ditam eles, Ilha Com­prida po­derá tri­lhar um ca­minho mais justo e de­mo­crá­tico, onde cada voto conte de fato para o fu­turo da co­mu­ni­dade. Marcus Pontes Ca­duti é cai­çara e membro da as­so­ci­ação de pes­ca­dores ar­te­sa­nais da ponta norte de Ilha Com­prida.

Marcos Pontes Ca­duti – Correio da Cidadania

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