Brasil: O que rola agora

Em contraponto ao desmonte ambiental, MST planeja plantar 100 milhões de árvores

Movimento coloca o reflorestamento na ordem do dia em lançamento de plano nacional para os próximos dez anos

Por Cristiane Sampaio

Brasil de Fato | Brasília (DF)

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Plano nacional de reflorestamento do MST foi lançado no DF no sábado (14), com plantio de mudas e comemoração - Créditos: Foto: Cristiane Sampaio/Brasil de Fato         Foto: Cristiane Sampaio/Brasil de Fato

O adolescente Rayuan Feitosa Maia, de 14 anos, mora no assentamento Gabriela Monteiro, em Brazlândia (DF), há cerca de três anos. Convivendo diariamente com as maravilhas do cerrado, ele conta que o cenário é um respiro para quem vive na zona rural e trabalha na roça.

“É uma sensação boa. Você se sente livre, no seu espaço e conectado com a natureza. Me faz muito bem”, conta o adolescente, que ajuda a família nas plantações de milho, feijão, mandioca e hortaliças. “Tudo orgânico. Nada de adubo químico ou veneno”, ressalta, ao contar com orgulho que aguarda o crescimento de uma agrofloresta recentemente plantada.

Ao vislumbrar o futuro das novas gerações, Rayuan diz esperar que seja “um tempo mais saudável e com mais natureza”, trazendo novas perspectivas para aqueles que ainda não vieram ao mundo.

A experiência do jovem está em consonância com o plano nacional “Plantar Árvores, Produzir Alimentos Saudáveis”, do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), que prevê o plantio de mais de 100 milhões de novas árvores nos próximos dez anos no Brasil. O lançamento do plano no Distrito Federal, no último sábado (14), é parte de uma rodada de eventos estaduais que ocorrem desde o fim de novembro.

“Eu acho que vai ser uma coisa boa, que vai influenciar não só nós, das futuras gerações, como as pessoas que estão com a gente [hoje]. Fazendo isso, acho que a gente vai inspirar outras pessoas. Vai ser bom futuramente. Vai mudar muita coisa”, acredita Rayuan.

 

                          (Foto: Adonilton Souza)

 

A militante Bárbara Loureiro, da coordenação estadual do MST-DF, explica que a ideia é fazer um contraponto ao movimento de desmonte ambiental promovido pelo grande capital, cuja atividade predatória está intimamente relacionada à devastação das florestas.

“A reforma agrária sempre foi um projeto de enfrentamento à degradação do modelo do latifúndio, que sempre deixou terras degradadas a partir do monocultivo, mas também [de enfrentamento] aos elementos conjunturais de acirramento da crise estrutural do capital e de como ela tem avançado no sentido da privatização dos bens comuns”, aponta, citando a preocupação com o aumento do desmatamento no governo Bolsonaro.

Em outubro, por exemplo, houve um salto de 212% na devastação da Amazônia, principal foco do problema, segundo levantamento do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon).

O agrônomo Gabriel Brigueti, coordenador do Setor de Produção do Centro de Formação Gabriela Monteiro, conta que o Distrito Federal tem vantagens que devem facilitar a implementação local do plano. Entre elas, está a curta distância dos assentamentos para a capital federal.

“Estar próximo a uma cidade muito grande faz você ter mais acesso a vias comerciais, principalmente porque vai ter mais acesso a viveiro de mudas, sementes. Além disso, o DF é pequeno, então, você consegue fazer uma gestão maior de pessoas. Você consegue, em um curto espaço, garantir que uma grande massa trabalhe em determinada área”, explica, acrescentando que o MST terá a tarefa de articular pessoas e grupos em torno do projeto.

Segundo o movimento, não há uma meta específica de reflorestamento para cada estado, mas o DF deve dar sua contribuição ao país com plantios de pequi, tamarindo, pitanga, jatobá, baru, entre outros cultivos típicos da região do cerrado.

O objetivo é recuperar áreas que foram devastadas, produzindo e comercializando os cultivos resultantes do reflorestamento. Os cerca de 25 assentamentos e 15 acampamentos do MST na região do DF e do entorno devem se envolver diretamente na execução do plano.

“Ao mesmo tempo em que vamos dialogar com a sociedade sobre o caminho insustentável que a humanidade está tomando, a gente vai também conseguir um retorno socioeconômico pras famílias que estarão envolvidas nesse processo de cultivo e comercialização”, explica o dirigente nacional do MST Marco Baratto.

Edição: Julia Chequer

Fonte: Brasil de Fato

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