Jasper Lopes

Teoria da Conspiração ou Teori na Conspiração?

QUANDO OS FARÓIS DOS ILUMINADOS NÃO QUEREM COMPARTIR SEU BRILHO ESTELAR, poderia ser o título alternativo deste artigo.​

Não por força de hábito, mas porque veracidade e ‘noblesse oblige’, na maioria das vezes me vejo na quase obrigação de cruzar espadas com cerebelos obscurantistas, apologistas de preconceitos racistas, sexistas, elitistas, fascistóides, enfim, pobrezas de espírito e de massa neuronal.  Mas, desta vez, será com colunistas que admiro, como o Sakamoto, e o também cartunista Maringoni, colega meu no Conselho Político nacional do Brasil de Fato e no mesmo campo do PSol. No caso do Sakamoto, sua coluna na Folha – e já ‘explícita’ no título “O veredito das redes sociais já decidiu que Teori foi assassinado”… mais ou menos assim. E o Maringoni, em postagem ironizando a “teoria da conspiração”.

Só que, o que salta à vista, – e claro está – não é “teoria”, mas sim, na ‘prática’, uma óbvia conspiração. Ou, jogando com as palavras, uma Teori da Conspiração, na real… Uma pessoa próxima  foi quem me chamou a atenção: “Olha, o Janine Ribeiro está na mesma linha de pensamento que você, e discordando de irônicos da ‘teoria da conspiração’ e críticos vaidosos de primeira hora”. No caso, referia-se ao  educador e escritor, professor Renato Janine Ribeiro, que por poucos meses foi Ministro da Educação consensualmente aclamado. Posto e tirado pela mesma Dilma. Cito os dois colunistas porque foram os primeiros que vi, mas muito melhores que uma posterior ‘plêiade’ de toscos egóicos.

Ocorre que, clássica e historicamente,  o árduo trabalho – seria o 13º dos “Trabalhos de Hércules”? – de desvelar, revelar, tudo que é velado ou oculto, tem sido tarefa de filósofos, pensadores, intelectuais de vanguarda…, numa eterna batalha da luz contra as trevas do obscurantismo social. Desde a Alegoria da Caverna (de Platão) – talvez o ‘desocultamento ‘ mais clássico e filosoficamente citado – , passando pelas sucessivas incinerações da Biblioteca da Alexandria (por parte de fundamentalistas cristãos e, depois, muçulmanos), de sumiços em tratados alquímicos/filosóficos durante a diabólica Santa Inquisição, destruição de códices e obras pré-colombinas pelos ‘colonizadores’ das Américas, da luta enciclopédica e também de espadas em punho dos iluministas na Revolução Francesa, das vanguardas operárias e intelectuais nas Revoluções Russas, dos ‘contra-culturais’  em Maios Franceses e Primaveras de Praga, dos ruptores  de velhos tabus e semeadores de novos paradigmas – tão bem explicitados por Thomas Kuhn e Fritjof Capra… E até mesmo em fronteiras mais ‘luz-cidas’ – lúcidas – de Hollywood, como no filme “Matrix”, filme que por si só é um compêndio de pelo menos oito hipóteses, desde a alegoria platônica da Caverna, até o neologismo do próprio nome MA(t)R(i)X…

Enfim, quase sempre cabe a um punhado de instigantes pensadores puxar o véu de Ísis e desvelar a nudez do Rei/Sistema. Mas… e quando o iluminista já se considera um ‘iluminado’ Buda/Sidharta e ‘vê’ o brilho de visão , já não de um punhado, mas de inúmeros grãos de areia da ‘massa’, ofuscarem seu brilho próprio e que parecia ímpar? Então, as “massas ignaras” (na ironia de um escritor brasileiro*) adquirem luz própria e cometem o soberbo pecado de chegarem às mesmas ‘luz-cidas’  conclusões que antes só alcançavam brilhantes pensadores em seus pícaros da glória intelectual.

Isto, por acaso, já não ocorreu antes, durante as Manifestações de 2013, quando insuflados interneticamente por perfis Anonymous, ecossocialistas e ‘passe-livreanos”, milhares de anônimos facebookianos partiram dos mouses para as ruas, ensombrecendo os outroras radicais iluminados?

Pois é, ‘caros amigos’, o que mais incomoda Narciso são milhares de espelhos. Se as redes sociais, por um lado e como disse Umberto Eco, foram capazes de dar voz e estímulo ao provinciano preconceituoso que só cochichava maldades com os vizinhos e ao pé-do-ouvido, por outro lado também foram capazes de conectar no éter e reverberar nas massas, como tão bem soube utilizar-se deste fenômeno o Sub Comandante Marcos/Galeano, em seu notebook acoplado em plena selva mexicana de Lacandona e Altos de Chiapas.

Já tomando posição, insisto que existe, sim, uma altíssima probabilidade de que o juiz Teori Zavascki tenha sido vítima dos mesmos detentores das chaves de ignição do Sistema Político-Financeiro.

Não ‘Teoria da Conspiração’, mas ‘Conspiração na Prática’, em sua mais pura forma e desfaçatez, de tanto Poder que certos alguns detêm.

Não é nem necessário esgrimir os mais variados elementos de ‘indícios’ que muitos, com razão, já estão expondo. Renato Janine Ribeiro, lucidamente, lista os exemplos do ‘acidente’ de aviação do Marechal Humberto Castello Branco, primeiro presidente do Golpe de 1964, mas que tinha o ‘defeito’ de ser da facção dos ‘pombos’, e não dos ‘falcões’, dentro do Regime. ‘Falcões’ que, com quem assumiu, – o funebresco Costa e Silva -, editaram o AI-5 e acabaram de radicalizar a Ditadura cívico-militar. E, segue a lista: também o ‘acidente’ que matou o presidente mais reverenciado de nossa história, o JK – Juscelino Kubitschek, que tinha envergadura política e moral para o rápido retorno à democracia, caso não tivesse morrido.

Mas podemos, nós, citar muito mais: 3) Jango, ou João Goulart, o presidente então deposto, e que também estava para retornar ao Brasil, caso um ‘providencial’ acidente de carro não tivesse acabado com sua vida no Uruguai, sob regime militar na época.

4) O general Omar Torrijos, presidente progressista -nacionalista do Panamá e que queria tornar aquele país mais independente dos Estados Unidos, mas que outro acidente lhe ceifou a vida (lembremos que lá está o estratégico Canal do Panamá, que liga dois oceanos e é importante via comercial).

5) Camilo Cienfuegos, outro estranho acidente de avião, no começo do governo democrático e pós-revolução cubana, um dos 3 mais importantes nomes do país na época, ao lado de Fidel e Che Guevara.

6) O militar, diplomata e Ministro de Defesa  Orlando Letelier, dissidente do general ditador Augusto Pinochet, do Chile. O embaixador  Letelier sofreu um ‘acidente’ já em Washington D.C., quando se dirigia para um depoimento contra a ditadura chilena. Encontraram-se fortes indícios de um complô da DINA (serviço secreto chileno), CIA e da máfia anti-castrista cubana de Miami.

7) E como não lembrar do paradigmático atentado que matou o presidente John Kennedy, também urdido pela CIA/máfia cubana de Miami, e no qual um dos possíveis atiradores teve uma morte até hoje não bem explicada?  

8) O coincidente acidente de Bin Laden pai, no Texas, quando retornava de uma reunião de negócios com o então presidente Bush pai, e que foi um dos possíveis motivos da ira de Bin Laden filho contra o Império?

9) O muito mal explicado e polêmico atentado – ou ‘auto-atentado’, segundo ‘experts’ – contra as Torres Gêmeas, onde não morreu nenhum dirigente corporativo ou político importante, e que foi a ‘justificativa’ para a invasão de vários países possuidores de poços de petróleo?

10) Um século e meio antes, os norte-americanos ‘acidentaram’ e fizeram naufragar o navio Maine, daquele país, ‘justificando’ assim uma guerra contra os espanhóis, no mar do Caribe, apossando-se então de Cuba, que virou importante fonte de renda e de negócios legais e ilegais para os EUA, incluídos cassinos, hotéis, cultivos de cana-de-açúcar e prostíbulos.

11) DE TEORI/PARATY A CAMPOS/SANTOS – É impossível deixar de fazer uma analogia – com elementos, aliás, muito parecidos – com o acidente que vitimou o então governador e candidato a presidente da República, Eduardo Campos, em Santos, há pouco mais de dois anos. Duas cidades litorâneas muito próximas, onde, em ambos os caos, se alegaram as condições climáticas. Só que estas más condições são bastante comuns, mas, de milhares de voos, por ‘coincidência’ houve dois acidentes fatais com homens-chave na sucessão presidencial, em pleno auge de atritos entre governos latino-americanos mais independentes e Tio Sam. No caso de Eduardo Campos, sua substituição por Marina Silva por pouco não muda o ‘placar’ da eleição, e com duas muito estranhas ‘casualidades’: os dois guarda-costas da Polícia Federal que são obrigatoriamente designados para acompanhar candidatos á Presidência foram chamados a outro lugar, não embarcando no avião, e, na escala em São Paulo, outro ‘providencial’ telefonema desvia a vice Marina Silva de subir no fatídico voo a Santos. É como se o ‘acidente’ de Paraty acabasse de ‘fechar’ o acidente de Santos, em linha direta.

E, cheque-mate: pela enésima vez concordo com pensadores de vertentes tão diferentes como o linguista/escritor norte-americano Noam Chomsky (considerado o maior gênio vivo, e que se auto-define politicamente como “companheiro de rota do anarquismo”), com o professor canadense-americano e marxista, James Petras, e com o economista liberal argentino Walter Graziano (autor dos livros “Hitler Venceu a Guerra” e “Nadie Vio Matrix” – que em português seria algo assim como “Ninguém Assistiu Matrix”). Estes três perspicazes analistas (como tantos outros, também…), não colocam o motivo principal de disputa de Poder como sendo de religião, raça, ideologia, etc, mas como domínio econômico, enfim, abocanhar dinheiro, ou o eufemístico vil metal.  Ou seja: MONEY! MONEY! MONEY!

*“Massas ignaras”:  o autor, no caso, utiliza o termo “turba ignara”. Trata-se do engenhoso conto “Apólogo brasileiro sem véu de alegoria”, de Alcântara Machado.

Compartilhar