Cidade Santos

A bolsa ou a vida?

Por Marcio Aurélio Soares.

 

Isso é um assalto!

Sim, estamos vivendo um assalto em curso, sendo agredidos por uma arma que pode ser letal. Um vírus. Devastador. Que pode nos aniquilar, aos poucos. Primeiro ele te ameaça; tira a sua liberdade; causa incertezas, inseguranças, e, com elas, a angústia.
O mundo está tendo uma nova experiência, com um ser vivo que representa menos que uma célula e, por isso, depende, de outro organismo para sobreviver e se reproduzir. Quando isso, pode ocasionar um grande estrago, como estamos vendo agora.
Mas como combatê-lo, eliminá-lo?
Não temos medicamentos ou vacinas. Todo o tratamento médico se baseia no alívio dos sintomas.
Melhor então é prevenir, pois se é pouco tentarmos remediar. A prevenção significa bloquear a sua transmissão. Este é um vírus danado, consegue passar de uma pessoa para a outra com muito mais facilidade que os outros.
Os europeus, neste momento, estão passando por momentos extremamente difíceis. Itália, França, Dinamarca, Espanha, estão com seus serviços de saúde colapsados; com dificuldades, até mesmo, de enterrar seus mortos, dada a sua grande quantidade. Ao contrário da Alemanha que também tem um grande número de pessoas infectadas, tem uma taxa de mortalidade baixíssima. O que teria ela feito de diferente?
Vivemos num falso dilema: mitigar ou suprimir. O primeiro significa atender aos doentes e isolá-los. O segundo, isolar a todos, antes de serem infectados. Esta não é uma questão simplesmente técnica, sanitária. Antes de tudo é escolha política e econômica. Essas duas opções significam escolher entre parar a economia ou não.
Qual foi a escolha Alemã. Fazer prevenção precoce, assistir seu doente com eficiência e parar o país. Para tanto é preciso vontade política e dinheiro, muito dinheiro.

 

Lá ninguém corre o risco de ficar sem comer, perder seus empregos; todos tem moradia digna e podem lavar suas mãos como o recomendado. E mais, o país testa o máximo de pessoas que pode, e os milhares de positivos, uma boa de parte de jovens, são encaminhados para quarentena.

 

Bem diferente daqui. Quando assisto “grandes” empresários e o próprio Presidente da República minimizar os efeitos dessa guerra, buscando claramente, menos prejuízo econômico, fico pensando se acham que moram numa bolha, ou então se eles têm transtorno de caráter.
O certo é que não temos leitos de UTI e não temos kits diagnósticos suficientes. Apensas confirmamos o diagnóstico de casos graves, daí porque nossos números de infectados ainda não são tão altos. Do ponto de vista de planejamento, estamos correndo atrás do rabo.

 

Em Santos, sexta cidade mais rica do Estado de São Paulo, um terço de sua população vivem com até meio salário mínimo. Sobrevivem A quantidade de moradores de rua é enorme, sem falar nos que tentam sobreviver sobre palafitas nos mangues, em cortiços ou dependurados nos morros da cidade, castigados pelas recentes chuvas.

 

Não temos outra alternativa. Temos que parar a cidade. Mas quem vai alimentar essa gente? Que vivia de sobras de restaurantes, agora fechados, ou do lixo?
Temos um exército de desempregados, pessoas em idade útil sem profissão, autônomos. Nossos maiores empregadores são as micro, pequenas e médias empresas. Como esses empresários vão conseguir manter os salários de seus funcionários? São perguntas que temos que responder.
Como eu disse, nós temos duas alternativas. Um sanitária-social, e outra economicista. Implementar as duas como fez a Alemã, me parece o mais sensato, mas para isso, mais do que dinheiro, precisamos de liderança. O que me parece não existir entre nós.

 

 

Marcio Aurelio Soares – Médico sanitarista. CRM 71765

 

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