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Da igreja ao funk tailandês, conheça a história viajante do trio Khruangbin

A palavra “khruangbin” significa “avião” em tailandês, e não poderia ser mais adequada para batizar o trio americano.

Por Liv Brandão

Com suas gravações quase totalmente instrumentais, que misturam psicodelia, soul, funk tailandês, ritmos do Oriente Médio, rock e dub, a intenção de Laura Lee (baixo), Mark Speer (guitarra) e Donald “DJ” Johnson (bateria) é levar os ouvintes por uma viagem entre os mais variados estilos dos mais variados países – a tal da world music sem a pecha pejorativa que comumente é associada ao estilo.

E o Khruangbin faz isso não só através de suas composições como White Gloves e People Everywhere (Still Alive), que caíram no gosto de nomes como Father John Misty e Massive Attack, para quem serviram de banda de abertura, e de festivais como o Glastonbury e South by SouthWest, onde já se apresentaram.

Nerds contra a islamofobia

Autodeclarados nerd musicais, os três também são celebrados por curar playlists com sons de países como Irã, Afeganistão, Tailândia e Turquia, entre outros, através do site AirKhruang, que reproduz a experiência de compra de uma passagem aérea, e que, para eles, serve como uma forma de se lutar contra a islamofobia crescente nos Estados Unidos ao divulgar a cultura do Oriente Médio.

Toda essa influência multiétnica eles receberam em casa: o estado americano do Texas é conhecido por ser um dos mais conservadores dos Estados Unidos, mas sua maior cidade, Houston, onde o trio foi formado, é um oásis cosmopolita – em 2010, ela ultrapassou Nova York em termos de diversidade étnica e racial, graças à imigração.

Mordechai – 2020

E foi nesse caldeirão de culturas que surgiu o Khruangbin. Mas a história da banda remonta desde muito antes de lançarem seus quatro álbuns de estúdio – The Universe Smiles Upon You, de 2015, Con Todo El Mundo, em 2018, Hasta El Cielo, de 2019 e Mordechai, de 2020.

Speer e Johnson se conheceram em 2004, quando tocavam na banda gospel de uma igreja metodista. Três anos depois, foi a vez de os caminhos de Speer e Lee se cruzarem. Ela, que estava aprendendo a falar tailandês na época, também tomou aulas de baixo com Speer e, após saírem em turnê com o grupo Bonobo, em 2010, decidiram montar seu próprio projeto, com DJ na bateria e ocasionalmente nos teclados.

Música no celeiro

Speer trouxe os sons do Oriente Médio, DJ era conhecido na cena de hip-hop de Houston e junto de Lee vieram as influências latinas de sua família mexicana. Desde então, os três se entocam num celeiro em Burton, uma cidadezinha texana de 300 habitantes, que consideram o quarto membro da banda. Lá, trabalharam com Steve Christensen, engenheiro de som das turnês das Destiny’s Child, também filhas do Texas.

 

Para acompanhar o som viajandão, a banda costuma exibir, em seus shows, efeitos psicodélicos nos telões, além de perucas pretas, usadas por Lee e Speer no palco. Nos tempos duros do começo da carreira, os acessórios ajudavam a não serem reconhecidos quando estavam no palco depois de venderem seu próprio merchandising na banquinha dos shows.

Queremos promover união e um mundo menos dividido por fronteiras“, repetem eles em várias entrevistas. Para o trio, a música vai muito além dos Estados Unidos, e o clima de divisão do país após a eleição de Donald Trump e do endurecimento das leis de imigração não tem vez em suas canções.

Como por exemplo Maria También, que, apesar do título em espanhol, é dedicada às atrizes e cantoras iranianas obrigadas a interromper as suas carreiras ou até mesmo a fugir do país após a revolução Islâmica de 1979 – e a influência fica clara nas linhas de guitarra.

Abaixo, Khruangbin toca um set acompanhado por Drippy Eye Projections ao vivo para o Pitchfork.

Fonte: Pensando pra frente

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