Colunistas João Marcos Rainho

Praia Grande 51 anos e esclerosada

Por João Marcos Rainho.

Se você tem um adesivo I Love PG no carro não deve gostar do título deste artigo. É a mesma doença que pegou nos santistas de classe média e foi utilizado como mote na última campanha eleitoral naquele município: quem elogia ama, quem critica odeia. A falta de senso crítico e até senso de ridículo tem mantido a inércia das gestões pública na  Baixada Santista, onde o cidadão é sempre um trouxa. Nas comemorações dos 51 anos de Praia Grande, o vírus da alienação foi espalhado como o da febre amarela. Até A Tribuna entrou na campanha higienistas mostrando o paraíso das terras e praias grandenses. A falta de discussão, matérias críticas dos problemas, em busca de soluções gera a continuidade e a permanência – e a agravância – dos problemas. Principalmente quando falamos de saúde, educação, transporte público.

Vejamos as últimas falácias vendidas como pérolas para os praiagrandenses:

1) A cidade que mais cresce na Baixada Santista. Falar em crescimento de cidades é um palavrão hoje no mundo desenvolvido que busca qualidade de vida. Esse era o discurso dos anos 50-70.  O modelo do crescimento, desenvolvimento, que só é focado em construção civil e asfalto de má qualidade, não leva a nada. Leva sim a destruição do ecossistema e hábitat humano respirável. Não tem contrapartida em qualidade de vida, em melhoria nos transportes ou nos serviços de saúde.  A cidade está crescendo com gente expulsa de Santos. O estelionato de pré-Sal aumentou o custo da habitação em Santos e triplicou preços dos imóveis e aluguéis. Os santistas fugiram para a cidade vizinha. Comemorar isso? Ou comemorar 1 milhão de pessoas que Praia Grande recebe na temporada. Esse número é mentiroso. Dividam 1 milhão pela extensão territorial da cidade. Não cabe.

2) Mais dinheiro para a saúde. Todo ano falam de milhões que entram para a saúde. Agora citam mais uma leva de grana. Vejam se o dinheiro vai chegar mesmo nos postos de saúde. Confira você que usa os postos. Quem não usa acha que tá tudo uma maravilha.

3) Educação. Gostam de citar avanços de Praia Grande na educação como se aqui fosse a Finlândia. A educação local pública tá boa? Tem filhos de políticos nessas escolas? Filhos de diretor de escola? Filhos de professor? Quando tiver é que melhorou mesmo.

4) Praia Grande o terceiro maior destino turístico do Brasil. Alguém no Ministério do Turismo entrou em delírio extremo. De onde tiraram esse número? A cidade está próxima a maior região metropolitana do Brasil e por isso, gente de classe baixa e média-baixa, tem aqui o destino mais perto para um bate-volta. Isso não é turismo. É a farofada, que por sinal, nada contra, é muito democrático e são bem vindos. Mas falar nesses números como se a cidade fosse melhor que Salvador, Florianópolis, Fortaleza, e outros locais de muitos atrativos, é agredir inteligências. O que Praia Grande oferece além de suas praias – poluídas? Nada. Veja feriado em dias de chuva. Fogem tudo por shopping.

Escrevi o artigo depois do aniversário da cidade, para não entrar na onda furada de comemorações de datas. Aliás, mentem quando citam o marco da fundação da cidade o bairro Ocian. Que por sinal tem 60 anos de fundação, 10 anos antes da independência da cidade. Já existiam núcleos habitacionais na cidade. Ocian foi um delírio do construtor Andraus que construiu prédios de qualidade duvidosa, que consolidou a cidade como de turismo classe C. Esses prédios são bonitos e importantes? Alguém se lembra onde estão? Façam uma visita e vejam as inovações das construções. Dizer que a Cidade Ocian teve inovações na época, é esquecer que o construtor estava apenas criando uma infra estrutura básica de água e luz que não existia naquele terrenos no meio do nada. Foi obrigação para não vender apartamentos em local insalubre. E criou o padrão arquitetônico que dominou a cidade nos próximos anos: prédios feios e apertados. Não era para viver ali. Era só para tomar banho e dormir antes e depois da praia.

O ufanismo destrói a capacidade crítica. Sem capacidade crítica não há mudanças e melhorias no território cidade. Morar na cidade não é como torcer pro time de futebol local. Você vai amar e torcer pro clube a vida inteira mesmo sendo um time meia boca.

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