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Deep Purple ‘IN ROCK’: Há, 50 anos, avançando por idéias do Led Zeppelin, o rock pesado mudava pra sempre

“Jesus Cristo! Ele era tão dinâmico. Passamos a duas seguintes atrás de um cara com esse estilo. Foi graças a ele (Plant). Eu gostava do approach do Led Zeppelin quando eles apareceram, adorava ‘Wholelotta Love’. Nessa época, a gente estava às voltas com orquestras e eu pensei: tem algo errado aí. Agradeço a eles pela inspiração. Eles tiraram isso do Jeff Beck, que por sua vez pegou dos Small Faces”, lembrou Ritchie, em entrevista à “Trouser Press”, em 1978. Com o apoio dos companheiros Jon Lord e Ian Paice, Ritchie Blackmore substituiu o cantor Rod Evans e o baixista Nick Simper por Ian Gillan e Roger Glover. A química foi instantânea.

 

 

Ritchie Blackmore, Ian Gillan, Roger Glover, Ian Paice e Jon Lord, do Deep Purple, em 1970. Foto: getty Images
Ritchie Blackmore, Ian Gillan, Roger Glover, Ian Paice e Jon Lord, do Deep Purple, em 1970. Foto: getty Images

“O Purple até esse ponto era mais conhecido nos EUA por covers como ‘Hush’, de Joe South, ‘Kentucky Woman’, de Neil Diamond, ‘River Deep Mountain High’, de Ike & Tina Turner”, lembra Ian, em entrevista à revista “Classic Rock”.

O vocalista acrescenta que os três álbuns de estúdio anteriores — ‘Shades Of Deep Purple’ (1968), ‘The Book Of Taliesyn’ ‘Deep Purple’ (1969) — foram muito admirados por aficionados como ele, mas que o material autoral passou despercebido. “Havia um desejo em Ritchie, Jon e Ian de explorar mais essa área. Esse foi o motivo da banda mudar e eu e Roger sermos convidados”, justifica.

A metade de 1969 foi tomada por ensaios, período em que o tecladista Jon lançou seu projeto clássico “Concerto for Group and Orchestra”. “Tenho absolutamente boas lembranças da época. Todos os ensaios em que estive antes eram para aprender músicas; os para o ‘In Rock’ eram voltados a compor numa perspectiva; estar totalmente dentro das músicas e depois tocá-las”, explica Ian.

 

 

A primeira faixa de “In Rock” é a pesadíssima “Speed King”, que tem seus “respiros” dinâmicos, mas diz logo a que veio o “novo” Deep Purple. Já faixas como “Flight of the Rat”, “Into the Fire” e “Hard Lovin ‘Man” não aliviam o sacode, com agressividade nos solos e nos vocais de Ian Gillan. Mesmo momentos mais calmos, como “Bloodsucker” e “Living Wreck”, não deixam de lado a intensidade. A única referência ao histórico psicodélico da banda —“Child in Time” — carrega uma sonoridade bombástica.

Questionado sobre como a banda fez a faixa de abertura do álbum, Ian diz que não sabe. “Não sei como criamos ‘Speed King’, assim como não sei como Ian Paice começou a tocar ou como Ritchie Blackmore começou a tocar”, desconversa, apontando algumas influências suas e dos companheiros: “Jon Lord tinha seu passado clássico ligado ao jazzista (americano de soul jazzJimmy Smith (1928-2005). Ian era Buddy Rich (1917-1987, o mais influente entre os bateristas “hiperativos” de jazz) em pessoa. No meu caso, foram Elvis Presley (1935-1977), Little Richard (1932-2020), Chuck Berry (1926-2017). Mais tarde, a influência de Bob Dylan, de Roger, veio à tona. Quando você junta tudo isso, você cria algo único. Se você tirasse um de nós, não seria o mesmo”, opina.

 

Ian Gillan: boas lembranças da época da gravação de "In Rock". Foto: Getty Images
Ian Gillan: boas lembranças da época da gravação de “In Rock”. Foto: Getty Images

Ian Gillan diz que o álbum não foi totalmente desenvolvido no estúdio, mas criado e aperfeiçoado por dias e noites na estrada. A forma final foi surgindo com muitos ensaios e experiências em todas as direções. O cantor destaca a importância do produtor Martin Birch no desenvolvimento do trabalho. “Musicalmente, Martin não precisou fazer nada. Ele não era um produtor nesse sentido, mas era um engenheiro com uma nova maneira de pensar. O que ele fez foi ouvir como uma bateria soava em uma sala e depois tentar reproduzir o som. Esse foi um pensamento revolucionário, acredite ou não”, conta Ian, destacando também que a média de idade por volta dos 20 anos facilitou o relacionamento. “Todo mundo era da mesma geração; todos pensávamos da mesma maneira. Era apenas a banda e Martin no estúdio”, lembra.

Um vasto exército de fãs de rock comprou o disco do Deep Purple, que apontava para um novo tipo de música pesada, sintetizada pelos riffs audazes de Ritchie Blackmore, o contraponto do teclado de Jon Lord e os lamentos penetrantes de Ian Gillan. Qualquer interação entre vocais e guitarras de Iron Maiden, Uriah Heep, Dream Theater, Kiss, Rainbow, Metallica e muitos outros deve um pouco ao que foi mostrado em “In Rock”.

Os críticos se entusiasmaram com a composição confiante, a produção expansiva e a arte ousada da capa que retratava os rostos dos cinco integrantes esculpidos na superfície do Monte Rushmore no lugar dos rostos dos presidentes dos Estados Unidos. Primeiro lugar na Alemanha e quarto no Reino Unido, ficando meses no Top 10 das paradas, “In Rock” proporcionou ao Deep Purple uma turnê que durou um ano. Foi o álbum que definiu o som do grupo dali para frente e que moldou o viria, muito tempo depois, a ser chamado de rock clássico. Também abriu o caminho para o período de maior sucesso na história de Purple, com uma sequência de discos clássicos (“Fireball”, “Machine Head”, “Made In Japan”, “Who Do We Think We Are!”, “Burn” e “Stormbringer”) lançada nos quatro anos seguintes.

 

Fonte: Reverb

 

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